Relação do piloto anônimo/II

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Aos 24 dias de abril, que foi quarta-feira da oitava da Páscoa, houve a dita armada vista de terra, de que teve grande prazer.

E chegaram à terra para verem que terra era, a qual acharam terra muito abundante em árvores e gentes, que por ali andavam, pela costa do mar, e lançaram ferro na foz dum rio pequeno. E depois de lançadas as ditas âncoras, o Capitão mandou deitar um batel ao mar pelo qual mandou ver que gentes eram aquelas, e acharam que eram gentes de cor parda, entre o branco e o preto, e bem dispostas, com cabelos compridos e andam nus como nasceram, sem vergonha alguma, e cada um deles levava o seu arco com flechas, como homens que estavam a defender o dito rio. Na dita armada não havia ninguém que compreendesse a sua língua. E visto isto, os do batel voltaram ao Capitão e neste instante fez-se noite, na qual noite houve grande tormenta

E no dia seguinte pela manhã levantamos âncora e com grande tormenta andamos correndo a costa para o norte para ver se encontrávamos algum porto, onde a dita armada ficasse. O vento era sueste. Finalmente encontramos um porto onde lançamos âncora e onde encontramos daqueles indígenas que andavam nos seus barcos a pescar. E um dos nossos batéis foi até onde estes tais homens estavam e agarraram dois deles e levaram-nos ao Capitão para saber que gente era, e, como se disse, não se compreenderam, nem à fala nem por sinais. E naquela noite o Capitão reteve-os com ele.

No dia seguinte mandou vestir-lhes uma camisa e um vestido e pôr um barrete vermelho, do qual vestuário eles ficaram muito contentes e maravilhados das coisas que lhes mostraram. Depois mandou-os pôr em terra.