Relação do piloto anônimo/IV
Nesta terra não vimos ferro e faltam-lhes outros metais. E cortam a madeira com pedras e têm muitas aves de muitas espécies, especialmente papagaios de muitas cores, entre os quais alguns grandes como galinhas e outras aves muito belas. E das penas das ditas aves fazem chapéus e barretes que usam. A terra é muito abundante em muitas árvores e muitas águas boas e inhames e algodão. Nestes lugares não vimos animal algum. A terra é grande e não sabemos se é ilha ou terra firme. Julgamos que seja pela sua grandeza terra firme. E tem muito bom ar e estes homens têm redes e são grandes pescadores e pescam peixes de muitas espécies, entre os quais vimos um peixe que apanharam, que seria grande como uma pipa e mais comprido e redondo, e tinha a cabeça como um porco e os olhos pequenos e não tinha dentes e tinha orelhas compridas do tamanho dum braço, e da largura de meio braço. Por baixo do corpo tinha dois buracos, e a cauda era do comprimento dum braço e outro tanto de largura. E não tinha nenhum pé em sítio nenhum. Tinha pêlos como o porco e a pele era grossa como um dedo e as suas carnes eram brancas e gordas como a de porco.
E nestes dias que estivemos, determinou o Capitão dar a saber ao nosso Sereníssimo Rei o achado desta terra e de deixar ali dois degredados e condenados à morte que tínhamos levado na dita armada para tal fim. E imediatamente o dito Capitão despachou um navio que levavam com eles com mantimentos além das 12 naus sobreditas. O qual navio levou as cartas ao Rei na qual se continha quanto tínhamos visto e descoberto. E despachado o dito navio, o Capitão foi a terra e mandou fazer uma cruz muito grande de madeira e mandou cravá-la no dito espaço e também, como se disse, deixou dois degredados no dito lugar, os quais começaram a chorar. Os homens daquela terra confortavam-nos e mostravam ter piedade deles.