Reverendo Fr. Sovela

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1Reverendo Fr. Sovela,
saiba vossa Reverência,
que a caríssima Vivência
põe cornos de cabidela:
tão vária gente sobre ela
vai, que não entra em disputa,
se a puta é mui dissoluta,
sendo, que em todos os povos
a galinha põe os ovos
e põe os cornos a puta.
  
2Se está vossa Reverência
sempre à janela do coro,
como não vê o desaforo
dos Vicêncios co'a Vicência?
como não vê a concorrência
de tanto membro, e tão vário,
que ali entra de ordinário?
mas se é Frade caracol,
bote esses cornos ao sol
por cima do campanário.
  
3Do alto verá você
a puta sem intervalos
tangida de mais badalos,
que tem a torre da Sé:
verá andar a cabra mé
berrando atrás dos cabrões,
os ricos pelos tostões
os pobres por piedade,
os leigos por amizade,
os Frades pelos pismões.
  
4Verá na realidade
aquilo, que já se entende
de uma puta, que se rende
às porcarias de um Frade:
mas se não vê de verdade
tanto lascivo exercício,
é, porque cego do vício
não lhe entra no oculorum
o secula seculorum
de uma puta de ab initio.