Reverendo Frei Antônio
1Reverendo Frei Antônio
se vos der venérea fome,
praza a Deus, que Deus vos tome,
como vos toma o demônio:
uma purga de antimônio
devia a moça tomar,
quando houve de vos mandar
um mimo, em que dá a emender,
que já vos ama, e vos quer
tanto, como o seu cagar.
2Fostes-vos mui de lampeiro
vós, e os amigos de cela
ao miolo da panela,
e achastes um camareiro:
metestes a mão primeiro,
de que vos desenganásseis,
e foi bem feito, que achásseis,
cagalhões, que então sentistes,
porque aquilo, que não vistes,
quis o demo, que cheirásseis.
3A hora foi temerária,
o caso tremendo, e atroz,
e essa merda para vós
se não serve, é necessária:
se a peça é mui ordinária,
eu de vós não tenho dó:
e se não dizei-me: é pó
mandar-vos a ponto cru
a Moça prendas do cu,
que tão vizinho é do có?
4Se vos mandara primeiro
o mijo num panelão,
não ficáreis vós então
mui longe do mijadeiro:
mas a um Frade malhadeiro
sem correia, nem lacerda,
que não sente a sua perda,
seu descrédito, ou desar,
que havia a Moça mandar,
senão merda com mais merda?
5Dos cagalhões afamados
diz esta plebe inimiga,
que eram de ouro de má liga
não dobrões, porém dobrados:
aos Fradinhos esfamiados,
que abrindo a panela estão,
daí por cabeça um dobrão,
e o mais mandai-o fechar;
que por isso, e por guardar,
manhã serei guardião.
6Se os cagalhões são tão duros,
tão gordos, tão bem dispostos,
é, porque hoje foram postos,
e ainda estão mal maduros:
que na enxurrada dos tais
é de crer, que abrandem mais,
porque a Moça cristãmente
não quer, que quebreis um dente,
mas deseja, que os comais.