Rosa, rosa de amor (1902)/Horas de amor
Só vivo as horas que passo
Junto de ti, meu amor,
Tua cintura em meu braço,
Meu beijo em tua bocca em flor...
Só assim vivo, querida,
Pois tudo mais não é vida.
Ventura que mal gotteja,
Triste do amor que se esconde,
E só acha de onde em onde
Um acaso que o proteja;
Só alcanço o teu carinho
Nesta sombra de folhagem,
Onde, como ave selvagem,
Nosso amor tem o seu ninho.
Por entre as moitas vagueio,
Caminho, paro, indeciso...
Virás ou não? E agoniso
Entre a esperança e o receio.
Por toda a floresta, cheia
De um rumor vago e perdido,
Cuido escutar o ruido
Dos teus pésinhos na areia.
Volto-me sobresaltado
Só porque uma ave deteve
O vôo, e um ramo, de leve,
Estremeceu ao meu lado.
E emquanto na sombra curto
Essa impaciencia hesitante
Por ternuras de um instante,
Por beijos dados a furto,
Cheio de inveja reparo
Nas borboletas que em bando
Passam felizes, amando
Na plena luz do sol claro...
Ventura que mal gotteja,
Triste do amor que se esconde,
E só acha de onde em onde
Um acaso que o proteja.
Amor que a sombra encarcera,
E foge ao sol e ás estradas...
Fossemos nós de mãos dadas
Pela vida e a primavera!
De subito, ouço teus passos:
D’entre folhagens de arbusto
Olhas, tremula de susto,
Caes palpitante em meus braços.
E como a cançada abelha
Que suga a flor, e adormece,
Meu beijo poisa, e se esquece
Em tua bocca vermelha...
Logro só de espaço a espaço
Algum momento de amor,
Tua cintura em meu braço,
Meu beijo em tua bocca em flor.
Ai, eu só vivo, querida,
Pedaços da minha vida...