Sonetos (Antero de Quental, 1880)/Quia æternus
Aspeto
QUIA ÆTERNUS
Não morreste, por mais que o brade á gente
Uma orgulhosa e van philosophia...
Não se sacode assim tão facilmente
O jugo da divina tyrania!
Clamam em vão, e esse triunfo ingente
Com que a Razão — coitada! — se inebria,
É nova forma, apenas, mais pungente,
Da tua eterna, tragica ironia.
Não, não morreste, espectro! o Pensamento
Como dantes te encara, e és o tormento
De quantos sobre os livros desfalecem.
E os que folgam na orgia impia e devassa
Ai! quantas vezes, ao erguer a taça,
Param, e estremecendo, impalidecem!