Uma Campanha Alegre/I/IV

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IV

Maio 1871.

O partido reformista appareceu um dia, de repente, semn se saber como, sem saber porque. Era um estafermo austero, pesado, de voz possante. Ninguem sabia bem o que aquillo queria. Alguns diziam que era o sebastianismo sob o seu aspecto constitucional; outros que era uma seita religiosa para a creação do bicho de seda. Corriam as mais desvairadas opiniões. Apresentava-se tão grave, tão triste, tão intransigente, que no Chiado affirmava-se ser um personagem da historia romana — empalha. do!

Ninguem se approximava d’elle, no meio da immensa impressão que causava nos môços de fretes. Por fim, pouco a pouco, alguns jornalistas mais curiosos fôram-se chegando, começaram a tocarthe com o dedo, a ver se era de páu. Era de carne, verdadeiro. Percebeu-se mesmo que falava. Então os mais audaciosos fizeram-lhe perguntas.

— Senhor — disseram — espalhou-se por aí que vindes restaurar o País. Ora deveis saber que um partido que traz uma missão de reconstituição deve ter um sistema, um princípio que domine toda a vida social, uma ideia sobre moral, sobre educação, sobre trabalho, etc. Assim, por exemplo, a questão religiosa é complicada. Qual é o vosso princípio nesta questão?

— Economias! — disse com voz potente o partido reformista.

Espanto geral.

— Bem! e em moral?

— Economias! — bradou.

— Viva! e em educação?

— Economias! — roncou.

— Safa! e nas questões de trabalho?

— Economias! — mugiu.

— Apre! e em questões de jurisprudência?

— Economias! — rugiu.

— Santo Deus! e em questões de literatura, de arte?

— Economias! — uivou.

Havia em torno um terror. Aquilo não dizia mais nada. Fizeram-se novas experiências. Perguntaram-lhe:

— Que horas são?

— Economias! — rouquejou.

Todo o mundo tinha os cabelos em pé. Fez-se uma nova tentativa, mais doce.

— De quem gosta mais, do papá, ou da mamã?

— Economias! — bravejou.

Um suor frio humedecia as camisas. Interrogaram-no então sobre a tabuada, sobre a questão do Oriente...

— Economias! — gania.

Foi necessário reconhecer, com mágoa, que o partido reformista não tinha ideias.

Possuía apenas uma palavra, aquela palavra que repetia sempre, a todo o propósito, sem a compreender. O partido reformista é o papagaio do Constitucionalismo.