Uma Campanha Alegre/I/XXV

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Agosto 1871.

Era há dias, ao fim da tarde, na Foz. O céu, no alto, tinha a brancura de uma porcelana: já a decoração inflamada do poente se apagava, e grandes tons dourados desbotavam numa tinta roxa. O mar, de um azul duro, estava riscado de espumas. Entre as rochas, na praia, a maresia era violenta; e na linha da barra sucediam-se, uma após outra, largas ondas monótonas.

Vinha a entrar uma lancha à vela. As ondas tomavam a pequena embarcação pela popa; ela fugia à bolina, rijamente impelida. Uma vaga maior sacode-a furiosamente.

Pescadores, mulheres, no largo, ao pé do Castelo, rompem a gritar. Há ali perto uma barraca de saltimbancos. Dois palhaços, já vestidos, caiados, com guizos, vieram olhar, pasmados.

A lancha corria. Ergue-se sobre ela outro mar mais forte. - «Está livre! não está livre! Santo Deus! Jesus!» - A onda, quebrando, apanhou-a pela popa, ergueu-a, balouçou-a, e por um momento viu-se apenas, na espuma, a vela oscilar, com a lenta palpitação da asa de um pássaro que morre.

Na praia as mulheres gritavam, de bruços sobre o chão. Os palhaços empalideciam sob o alvaiade. A sombra da noite caía.

A lancha tinha escapado. Correram todos ao cais, vê-la atracar. Vinha cheia de água, com a vela molhada até meia altura, os remos partidos. Estivera perdida. O patrão, um velho baixo, seco, de cabeça branca sob um barrete de pele de lontra, atirava para fora a corda da rede. Tinham trazido 10 ou 12 pescadas!

Cada pescada podia valer seis vinténs! E tinha estado perdida, a lancha! E era ao anoitecer, longe de socorro, na água impiedosa!

Ora sabem qual é o imposto que sobre este duro trabalho lança o fisco? - 40 réis por pescada! Não é o antigo dízimo absolutista - é o terço liberal! E assim acaba o romance!

Pode alguém estranhar que as Farpas não contenham nunca uma página dada ao romance, à imaginação. Pois bem - aqui está um conto, com paisagem, passado à beira-mar.