Uma Lágrima de Mulher/I/II

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Principiava a declinar o mês de outubro, e já o inverno abria cedo os portões da noite.

O céu, betumado por igual de um cinzento chumbado e sujo, peneirava de vez em quando uma poeira d’água, que se precipitava na lâmina polida do mar, como se milhões de flechazinhas microscópicas crivassem o escudo enorme do fabuloso gigante marinho.

Das águas, mortas e sombreadas pelo azul escuro da noite, levanta-se o torrão vulcânico, da ilha, desenhando fantasticamente no fundo plúmbeo do céu os contornos negros das oliveiras.

As duas vidraças iluminadas da casa de Maffei fitavam da treva as ilhas vizinhas.

Do lado oposto da ilha, os pescadores lançavam, cantando as redes ao mar, e o som monótono das cantigas chegava esfacelado e trêmulo, como o reflexo dos seus archotes nas vagas.