Versos da mocidade (Vicente de Carvalho, 1912)/Ardentias/Versos a alguem
Não, não penses em mim! Pensa em ti, minha amada!
Foje desta paixão que te arrasta e me assombra!
Ave que vens pouzar no pó da minha estrada,
Tua vida é um arrebol, meu destino é uma sombra.
Que ceu azul reflete o teu olhar tão puro!
O sorrizo florece em rozas na tua boca...
E hasde sacrificar a este amor sem futuro
A primavera em flor dos teus quinze anos, louca!
E hasde ser infeliz porque te amo! E perdido
De amor, eu sofrerei a incomparavel magua
De receber de ti, culpado e arrependido,
A bençam desse olhar nuns olhos razos d’agua!
Olha para o porvir — largo caminho aberto
Sobre um chão todo em flor, sob um ceu pleno de astros;
Deixa o passado! Esquece os plainos do deserto
Onde se irá perdendo a sombra dos meus rastros!
Não chores! Para ti abre-se a vida em flores...
Deixa-me só, caído á beira do caminho!
Sê feliz sem remorso! Esquece-me!... E não chores...
Menos padecerei, padecendo sózinho.
Adeus! Deixa-me! Vê: tenho os olhos serenos,
Fito quazi contente o meu sonho em pedaços...
Morrer de ver-te a rir nos braços de outro — é menos
Bem menos que te ver, chorando, nos meus braços.