Victor, meu Padre Latino

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1Victor, meu Padre Latino,
que só vós sabeis latim,
que agora se soube enfim,
para um breve tão divino:
era num dia mofino
de chuva, que as canas rega,
eis a patente aqui chega,
e eu por milagre o suspeito
na Igreja Latina feito,
para se pregar na grega.
  
2Os sinos se repicaram
de seu moto natural,
porque o Padre Provincial,
e outros Padres lhe ordenaram:
os mais Frades se abalaram
a lhe dar obediência,
e eu em tanta complacência,
por não faltar ao primor,
dizia a um Victor Prior,
Victor, vossa Reverência.
  
3Estava aqui retraído
o Doutor Gregório, e vendo
um breve tão reverendo
ficou co queixo caído:
mas tornando em seu sentido
de galhofa perenal,
que não vi patente igual,
disse: e é cousa patente,
que se a patente não mente,
é obra de pedra, e cal.
  
4Victor, Victor se dizia,
e em prazer tão repentino,
sendo os vivas ao latino
soavam a ingresia:
era tanta a fradaria,
que nesta casa Carmela
não cabia refestela,
mas recolheram-se enfim
cada qual ao seu celim,
e eu fiquei na minha cela.