Vida de Antônio Rodrigues Ferreira/XII

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XII

No dia 15 de Maio de 1859 reunio-se o partido conservador para eleger quem, na ausencia do Dr. Miguel Fernandes, que se achava na Côrte, deveria substituil-o.

Foi eleito o Coronel Machado. [1].

Começa agora a obra meritoria da gratidão publica.

A Camara da Fortaleza mandou collocar na sala das sessões o seo retracto a oleo[2]; mudou o nome da praça, em que elle morava, de Praça Municipal para Praça do Ferreira[3]; pedio á assembléa provincial

e obteve autorisação, para despender até 5 contos de

réis com um mausolêo no cemiterio de S. João Baptista[4], e finalmente nomeou uma commissão central na Capital, incumbida de promover a acquisição de meios para levar a effeito um monumento na Praça do Ferreira, á construcção do qual deverião applicar-se aquelles 5 contos de réis[5].

Essa commissão compunha-se dos Barões de Ibiapaba e de Aquiraz, Visconde de Cauhipe e Drs. Manoel Fernandes Vieira e Paulino Nogueira Borges da Fonseca, mas nunca fnnccionou, a principio por se acharem na Côrte, como deputados geraes, os 2.º, 4.º e 5.º membros, depois por morte dos 3.º e 4.º.

Eis o varão cuja vida me propuz a esboçar.

Que elle tinha faltas, quem ousará contestar?

Quem não as terá? Perfeito só Deus.

Ninguem nasce sem defeitos, disse Horacio; o melhor é o que menos os tem. Nam vitiis nemo sine nascitur; optimus ille est qui minimus urgetur.[6]

Mas delle pode-se bem dizer:

Sua vida privada foi um curso de caridade para os corações piedosos;

Sua vida publica um curso de politica para os verdadeiros patriotas.



  1. Eis a Circular sobre a eleição:
    « Illm.º Sr — Tendo fallecido no dia 29 do mez proximo passado o nosso prestimoso amigo e dedicado partidario, o tenente-coronel Antonio Rodrigues Ferreira, sendo indispensavel que uma pessoa se encarregue aqui na capital de satisfazer as requisições e pedidos, que vierem dos nossos corregionarios do interior da provincia, e que represente provisoriamente o partido caranguejo, na ausencia do Dr. Miguel Fernandes Vieira, nosso verdadeiro chefe, entenderam os nossos amigos, que eu me devia encarregar de tão honrosa missão, em consequencia do que me dirijo á V. S., em quem reconheço dedicação ás idéas d’este partido, afim de que não só acceite o oferecimento que ora, como me ajude a trazer ao nosso partido a mais completa unidade.

    Não ignora V S. o que vale a unidade em qualquer corporação, e quanta força e importancia virá ella dar ao partido a que pentencemos.

    Tenho toda a esperança , pois, de que V. S. approvará esta idéa, e com o seo valioso auxilio me, ajudrá a elevar o partido ao maior grão de prosperidade, que é de desejar.

    V. S. pode contar em seu serviço com todos os meus esforços, e de meus amigos. Sou — De V. S. — Obrigado e Criado, — José Antonio Machado. — Ceará, 16 de maio de 1859. — (Pedro II de 18 de maio de 1859.)

  2. Actas das sessões do 1º de Junho de 1871, de 17 de Março e 10 de Dezembro de 1876.
  3. Actas das Sessões de 12 e 13 de Outubro de 1871.
  4. Actos das sessões de 16 de Abril e de 24 de Julho de 1876, e lei provincial n.º 1585 de 26 de Setembro de 1813, art. 16 § 38
  5. Acta da sessão de 8 de Julho de 1876
  6. Satyra, Pag 20