A Mulher na agricultura, nas industrias regionaes e na Administração Municipal/Escolas domesticas agricolas

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Escolas domesticas agricolas
 

 

A criação das escolas agricolas é, como vimos, da maior urgencia para o paiz, sendo opinião nossa que os municipios devem apressar-se a cria-las, num belo exemplo de descentralização que se harmoniza absolutamente com a forma democratica, fundo inato da vida nacional.

Além das principais culturas, devem estas escolas ensinar a fitopatologia (conhecimento e tratamento prático das doenças das plantas), a tecnologia agrícola, rudimentos de medicina veterinaria na sua aplicação terapeutica imediata e vulgar, zootecnia, economia domestica, cozinha e tudo quanto a experiencia tem demonstrado ser indispensavel á vida mais farta e mais util da familia agricola.

A vida do campo, tal como ainda hoje se conserva nos países que não compreenderam o remedio a dar-lhe, é triste. É desoladoramente triste, tanto para o pobre escravo da terra, o miseravel servo da gleba, que arroteia e cultiva sem inteligencia e sem ideal um campo que nunca poderá chamar seu; como para o proprietario, e principalmente para as senhoras, que mal a toleram como um castigo, alheadas dos verdadeiros prazeres que ela encerra, ignorantes ou esquecidas do importante papel que são chamadas a representar na agricultura scientificamente modernizada.

A existencia da mulher nos meios rurais tem sido uma servidão para as pobres e um suplicio para as ricas.

Reconhecendo o perigo do exodo dos campos, todos os que se interessam inteligentemente pelas questões sociais fazem hoje uma lúcida propaganda agricola, colocando-a sob a protecção vigilante da mulher. Só ela, dizem os sabios, pode opôr um dique á corrente devastadora da emigração para as cidades e do abandono da terra pelo trabalho das fábricas, de mais aparente lucro, mas de mais deleterios efeitos, morais e materiais.

No seu importantissimo livro Le retour à la terre diz mr. Jules Méline, antigo ministro da agricultura em França:

«De todas as formas que se podem empreender no interesse da agricultura, se se deseja impedir a deserção dos campos, não ha nenhuma de maior urgencia do que o ensino das mulheres.»

Antes de conhecer a opinião do conhecido estadista, já vinhamos dizendo de ha muito ás mulheres nossas leitoras: «A terra pertence-nos! A terra deve-nos mais no seu primeiro cultivo do que ao homem, caçador e guerreiro. A terra nos tem prendido e enleado ao seu destino, como se tivessemos raizes que no seu seio procurassem a seiva; mas a terra nos ha de libertar, dando-nos a dignificação do nosso papel de dirigentes de familia, e dando-nos a independencia economica, conquistada com o nosso proprio esforço, que sem ele nada vale a fortuna, como libertadora de consciencias».

A mulher necessita de ser bem orientada na agricultura, bem convencida de quanto vale o seu trabalho para o bem comum, e bem senhora do papel que lhe distribuem de fixadora da humanide ao solo de que procedemos e que é mister volvamos a estimar.

Até aqui ela tem sido apenas pelo instinto essa força invencivel que não deixa desagregar as sociedades, que não tem deixado desaparecer dos corações o sentimento colectivo da patria; ou seja nos velhos países emigradores, corno o nosso, onde a mulher — pode bem dizer-se — ha seculos que é a guarda e cultivadora paciente da terra que o homem abandona pela miragem tentadora que o fascina, ou pela obrigação das armas em terras que é necessario manter em continuo estado de conquista e defesa; ou seja nos países novos, onde a imigração é a torrente de vida que fecunda o solo virgem. A mulher! Sempre a mulher é o traço de união do passado ao futuro, é a guarda da terra mater, é a mestra que transmite ás novas gerações as pequenas industrias tradicionais, as lendas do passado, a aspiração do futuro!

Dar pois á mulher a consciência da sua fôrça moral e entregar lhe confiadamente o desempenhado sua grande missão social parece-nos o melhor bem que se pode fazer à Patria portuguêsa.

Lembremo-nos de que a vida rural em quasi todo o país, que se intitula agrícola e de facto o deve sêr, é profundamente desoladora e miserável.

O passadio das nossas populações rurais é menos do que frugal, porque chega a ser insuficiente, produzindo em grande parte o enfraquecimento e a raquitismo, que os médicos militares tristemente contestam. É necessário que a mulher, entrando conscientemente no desempenho de funções a que a rotina a tem escravizado, possa exercer a sua acção no sentido de melhorar a vida da família e consequêntemente preparar o ressurgimento da raça portuguêsa.

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