A Mulher na agricultura, nas industrias regionaes e na Administração Municipal/Horticultura

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Horticultura
 

 

A horticultura está naturalmente indicada para ser o trabalho mais simpatico á mulher agricultora, porque ela representa a graça do jardim e a utililidade pratica da horta, que tanto agrada ao seu espírito de economia.

Quando a horticultura toma a forma industrial, baseando-se na sciencia para intensificar a produção e dar os «primores» pela forçagem da cultura, conseguindo o lucro compensador para os seus cuidados, aproxima-se mais da floricultura do que verdadeiramente da horticultura.

O cultivo do hôrto é completamente diverso do da horta, mal se podendo mesmo comparar.

No hôrto explora-se a cultura permanente, intensiva, com estufas, campânulas, vidraças, persianas, abrigos enfim de todas as formas, para auxiliar o trabalho da terra, dessa terra que bem pouco ás vezes tem do solo primitivo, pois este fica muito abaixo das raizes que se nutrem e se expandem sobre outra terra que o homem procura, escolhe, tempéra e torna quimicamente tal como é preciso que ela seja para a sua industria de primores destinados á mêsa dos ricos.

A horta é vasta, plebeia e mais ou menos primitiva nos seus processos culturais, produzindo bom ou mau, á aventura da sorte e no tempo proprio, sujeita ao comercio que compra muito e barato sem seleccionar, para o grande publico que come naturalmente, por necessidade de viver, e não pelo gôso educado dos sentidos.

Ambas as formas da horticultura são uteis e a ambas a mulher portuguêsa pode e deve dedicar-se com amôr, porque, se uma dá mais lucros, a outras dá tambem menos riscos e trabalho, além da consoladora satisfação de alimentar muitos estomagos que sabem tristemente o que é a fome.

Nas huertas de Valencia — que admiravelmente descreve o distinto agronomo Menezes Pimentel na parte do seu trabalho, resultado da missão oficial de estudo de que se desempenhou cabalmente, intitulada «Frutas, Legumes, Flôres» — podemos vêr o que na Espanha se faz nêsse sentido e, comparando com o que na nossa terra se poderia fazer e não se faz, sentimo-nos vexados no orgulho legítimo de querermos ser sempre os primeiros.

É, pois, absolutamente urgente intensificar a propaganda agrícola e forçar a compreensão de todos quantos ainda hesitam no nosso país, nem sequer vendo o que se faz nos outros, para se chamar a mulher de trabalho a exercê-lo com mais utilidade e mais convicção do bem que realiza, e tirar da criminosa ociosidade as que mais uteis ainda podem ser na cultura scientífica, as senhoras da classe média, mulheres, filhas e irmãs dos homens que mais labor representam nas sociedades modernas.

A horticultura, como todas as fórmas da cultura agrícola, é hoje perfeitamente scientífica, reconhecendo-se em todos os países que, para ela se desenvolver e progredir, é indispensavel o concurso inteligente da mulher. Eis o motivo por que têem escolas femininas especiais para a horticultura a Belgica, a Holanda e os Estados Unidos, a que já nos referimos, assim como a Suecia, a Dinamarca, a Finlandia, a Inglaterra, a Australia, a Alemanha e outras nações.

A Russia, antes do conflito europeu que tudo perturbou, estava pensando muito a sério no ensino agrícola feminino, tendo aberto ultimamente em Moscou um curso especial de horticultura para meninas.

O assunto é tão urgente, que nos ultimos congressos agrícolas se têem sempre formulado votos no sentido de dar á mulher, pela instrução, o verdadeiro lugar que lhe compete na agricultura e industrias agrícolas. Foi após o congresso internacional feminino, realizado em Londres em 1899, que se formou a «União internacional feminina agrícola e hortícola», com séde em Londres, contando membros em todos os países civilizados.

Esta liga tem por fim reunir todas as mulheres dos países que se interessam pela agricultura, para que se auxiliem e vulgarizem os melhores métodos.

Além deste, tem ainda um fim altamente social, que é espalhar quanto possivel o gosto pela agricultura entre as mulheres, mostrando-lhes que é um belo meio de ganharem honestamente a sua vida, se possuirem a instrução especial necessaria. Orientando a instrução das raparigas inteligentes para a agricultura e fazendo-as amar a terra, espera a «União» lutar vantajosamente contra o tão grave mal social, que é por toda a parte a despopulação rural. Só pelo trabalho e pelo amor inteligente da mulher á agricultura se oporá um dique ao perigoso exodo que despovôa os campos para as cidades super-habitadas.

Ora o nosso país não foge a esse mal, especialmente esta vasta provincía do Alentejo, que representa o futuro e a riqueza da grande agricultura em Portugal. É necessario que as mulheres tenham muito amôr a esta terra e ao seu cultivo, que é quasi a nossa unica razão de existir.

A associação constitúi um dos meios de que em toda a parte se lança mão para interessar a mulher no progresso agrícola; é pois necessário que todos os agricultores e todos os agrónomos pensem muito a sério num problema que por toda a parte se está resolvendo por uma forma única.

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