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A esperança

 

― Vai, que não o pilhas, ficou dizendo o taverneiro.

Caminhou o filho de Carolina com passos de gigante um longo espaço sem vêr viva alma.

― O diabinho escapou-se, pensava elle, mas sempre fico sabendo que o pouso é para estas paragens. Se elle não fôr fazer levantar o vôo ás corujas que guardam a pômba; pondo-as d'aviso da perseguição que lhe fiz.

O caminho fazia muitas voltas: n'uma d'ellas avistou o rapaz a alguma distancia. José, que a todos os momentos olhava para a retaguarda, viu-o logo, e pôz-se a correr agarrando a cesta com as mãos ambas. Foi então uma caça desesperada. Francisco já não procurava disfarçar que o seguia, e corria tanto como o rapaz, para o não perder de vista. Só quando via alguem, moderava um pouco sua corrida, para que o não detivessem com perguntas. N'uma d'essas occasiões fazia o caminho um cotovêlo, e tornou a perder de vista o fugitivo. Caminhou, caminhou, e não o tornou a avistar. Era o caminho coberto de muitos atalhos. Teria o rapaz tomado por algum d'elles? mas por qual?

― Agora perdi-o, pensou elle. Que o leve a bréca!

E assentou-se para descançar e limpar o suor.

― O diabinho fez a sua a limpo.

Tornou a levantar-se. Custava-lhe a dar-se por vencido.

Subiu a uma parede. Olhou em volta. Não avistou o que procurava. Dirigiu-se a um pinheiral fallando comsigo mesmo, e voltando-se a todos os instantes para o lado em que o tinha perdido de vista.

― O rato logrou o gato, concluiu elle no seu monologo; mas o sitio é para aqui, se elle não se desviou do buraco para me escapar: hei-de dar com a malhoada.

Tirou a jaqueta, os sapatos e as meias, e subiu ao pinheiro mais alto. Olhou para todos os lados; o rapaz tinha-se sumido. Revistou então os sitios que a sua vista alcançava. Um caminho largo lhe ficava em frente e se communicava com a estrada. N'este caminho havia uma quinta com sua casa enegrecida pelo tempo, e defronte a ruinas d'uma outra casa pequena. Tornou-se-lhe suspeita aquella casa de quinta; não tinha visinhos; era ao nó para uma tratantada; mas o rapaz tinha-se desviado d'ella, mettendo-se por entre os campos. Voltou-se para o lado em que perdera José de vista.

― Vejamos para o sueste, dizia o marujo. Está alli uma aldeia!... Nada! Tem as casas muito juntas. Outra aldeia... Tambem não. Tem muitos visinhos. As aves de rapina não poem o seu ninho entre gente.

Virou-se outra vez para a quinta, que mostrava abandono. Parecia namoral-a. Não podia desviar os olhos d'ella. De repente gritou:

― Olé!... Lá vai o rato metter-se no buraco!...

José com a cesta á cabeça tinha sahido de uma azinhaga, que ficava occulta entre umas devezas, caminhou pelo caminho largo fronteiro e entrou pelo portão da quinta.



Erratas

Na pag, 201, segunda columna, linhas 18 a 19, onde se lê ― estabelecimento, — deve lêr-se — embebecimento.

 

 

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Le Monde marche

Foi esta a palavra ardente e inspirada de Pelletan, quando contemplando a marcha espantosa do espirito humano no mundo das sciencias e das lettras, das artes e da industria, arremessava ao meio das turbas a sua maravilhosa epopea do progresso.

Progresso! E' esta a grande divisa do seculo! E' esta a voz de Victor Hugo, de Lamartine e de tantos outros, que como obreiros que são e animados d'um fogo sancto, não cessam de côoperar para a completa realisação d'esse edificio admiravel da civilisação e perfectabilidade universal. A França, esse fóco das sciencias e das lettras, essa fonte inexgotavel de tudo o que é bello e grandioso, é a sua patria. Alli parece que Deus os conserva e inspira, quando do seu