Página:Turbilhão (Coelho Netto, 1919).djvu/202

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cima de vosmecê. E veio todo o mundo para a sala, e todo o mundo falou, uma porção de mulheres, uma corumbada de meter medo. A sua carta andou de mão em mão, e eu na porta, em pé, rachando debaixo do sol. Nem, por delicadeza, me mandaram entrar. Aquilo, nhozinho...! Eu nunca me enganei com aquele cabuloso. Qual! gente de muita conversa é assim mesmo, não vale nada. Vosmecê escreva: não vale nada. Quem quer dar não faz discurso.

Paulo baixou a cabeça, sucumbido, e ficou a retorcer nervosamente o buço enquanto o mulato, já em mangas de camisa, examinava garrafas. Ritinha apareceu:

— Ah! Mamede... que horas! E eu aqui sem almoçar.

— E eu? Quem sabe se você pensa que fui brincar? Pois tira o almoço.

Virou, de um trago, o codório e, passando a mão pelos duros bigodes, disse, pigarreando: Nhozinho também ainda não almoçou.

— Ainda não; mas não tenho fome.

— Não tem fome! - Desatou a rir. - Está amofinado. Ah! nhozínho, bem se vê que vosmecê está entrando agora no mundo. Isso é uma canalha! É uma canalha! Quanto mais rico, pior. Não ligue, faça como eu. Se eu me aborrecesse por causa dessas coisas... então...! Dinheiro? dinheiro é nada; tenha a gente saúde, o mais...

Ritinha, encostada ao umbral da porta, olhava distraidamente