Página:Turbilhão (Coelho Netto, 1919).djvu/288

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— Talvez tenha escrúpulos: dinheiro mal ganho.

— Qual! histórias.

— Mamãe!? Tu não a conheces.

Levantou-se e, contendo um bocejo, perguntou:

— Queres ver o meu quarto?

— Vamos.

Ela caminhou direito às portas, abriu-as de par em par e afastou-se dando passagem ao irmão que parecia embaraçado, tímido.

— Entra. Tens vergonha? - perguntou sorrindo. - É um quarto como outro qualquer.

O tapete, alto e fofo, abafava maciamente os passos. A cama estendia-se sob um baldaquino de cujo fundo, dum amarelo de ouro, irradiando em pregas, pendiam sanefas e pesadas dobras de um pano de seda púrpura. Os móveis lampejavam lustrosos, com altos espelhos que refletiam, afundavam o aposento. As paredes eram ramilhetadas de ouro.

Um perfume cálido errava na ar. Havia no silêncio um quê de sedução, um convite misterioso: era o ambiente lascivo que sugeria e vergava ao amor. Paulo não se atrevia a avançar - olhava tolhido, perturbado, sentindo o prestígio inelutável da mulher, a influência poderosa da carne como se ali não estivesse a irmã, mas uma mercenária que o fosse arrastando, vencido, para a amor lúbrico que todo aquele interior aconchegado e discreto insinuava.

Violante abriu o guarda-vestidos - evolou-se uma bafagem aromal em que havia o perfume alucinante