Página:Turbilhão (Coelho Netto, 1919).djvu/289

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da carne e ele viu a policromia das sedas que escorriam dos cabides em saias esguias, plumagens ondulantes, nuvens de rendas. Abriu um cofre, mostrou-lhe as jóias, umas em escrínios, outras soltas.

No psichê ainda rolavam anéis, grampos e numa concha de nácar rebrilhava um escaravelho cravejado de rubis e uma grande pérola piramidal alvejando na encarna dum broche.

Ele olhava, mas a atenção fugia-lhe para o corpo lânguido, flexuoso, cujas formas desenhavam-se sob as rendas do frouxo penteador. Recuou, sentia-se abalado, começava a fraquear diante da mulher. Respirou largamente caminhando para a sala, como a fugir:

— Sim, senhora. - Logo pensou no homem e, com os olhos incendiados, perguntou numa voz presa em que havia desejo: E ele?

— Ele!... É uma excelente criatura. Muito delicado, quer-me muito. Dá-me tudo quanto quero, faz-me todas as vontades. É como um pai. Tem ciúme, mas isto é mal de todos. Não há remédio senão aturar um pouco. Vivo aqui como vês. Pouco saio. É lendo, dormindo, conversando.

— E já apareceste na Rua da Ouvidor?

— Eu? Quantas vezes!

— Então?

— Então, quê?

— Não encontraste conhecidos?

Ela deu d'ombros.

— Já te disse que não os vejo. Quero que