A Estrella do Sul/Capitulo 21

Wikisource, a biblioteca livre
CAPITULO XXI


JUSTIÇA VENEZIANA


Nos dias que se seguiram Cypriano occupou-se activamente em seguir as diversas phases da sua nova experiencia. Em consequencia de algumas modificações introduzidas na construcção do forno de reverbero, e por meio de uma tiragem mais bem regulada, esperava elle que a fabricação do diamante se realisasse n'um tempo muito mais curto do que da primeira vez.

Escusado é dizer que miss Watkins se interessava vivamente por esta segunda tentativa, da qual devemos concordar que era um tanto a inspiradora. De modo que muitas vezes acompanhava o joven engenheiro nas suas amiudadas visitas de cada dia ao fórno, onde, pelas aberturas que havia nas paredes de tijolo, gostava de observar a intensidade do fogo que surgia no interior.

John Watkins não se interessava menos do que a filha n'aquella obra, mas por motivos differentes. Tinha pressa em possuir de novo um diamante, cujo preço fosse de milhões. Todo o seu receio agora era que esta segunda experiencia não desse bom resultado, que a primeira não tivesse sido na maxima parte filha do acaso.

Mas, se o fazendeiro e miss Watkins animavam o engenheiro na continuação das suas experiencias, no aperfeiçoamento da fabricação do diamante, não se dava o mesmo com os mineiros do Griqualand. Annibal Pantalacci, James Hilton e herr Friedel, já não estavam no acampamento, mas tinham deixado companheiros que sobre aquelle assumpto pensavam exactamente como elles. Assim o judeu Nathan não deixava de continuar com surdas intrigas a excitar os proprietarios dos clains contra o joven engenheiro. Se aquella fabricação artificial dos diamantes entrasse definitivamente no dominio da pratica lá se ía o commercio dos diamantes naturaes e das outras pedras preciosas. Já se tinha conseguido fabricar saphiras brancas ou corindons, amethystas, topazios e até esmeraldas, não sendo todas estas gemmas outra cousa mais do que crystaes de alumina com diversas cores dadas pelos acidos metallicos. Já isso punha muito em risco o valor venal d'essas pedras, que tendia a diminuir. Ora se o diamante viesse a tornar-se tambem de facil fabricação, era a ruina certa dos exploradores diamantiferos do Cabo e dos outros logares de producção.

Todas estas considerações tinham sido feitas quando foi da primeira experiencia do joven engenheiro; repetiam-se agora com mais acrimonia, maior violencia ainda. Os mineiros faziam conciliabulos, que causavam receios de alguma cousa séria contra os trabalhos de Cypriano. Mas elle nada se importava com isso, pois que estava resolvido a levar a experiencia ao fim, dissessem ou fizessem fosse o que fosse. Não! Não recuaria diante da opinião publica, e da sua descoberta nada conservaria secreto, pois que ella havia de aproveitar a todos.

Mas, se o engenheiro proseguia no seu trabalho, sem a menor hesitação ou receio, miss Watkins, que estava ao facto de tudo quanto se passava, começou a tremer por elle. Reprehendia-se por ter induzido Cypriano a continuar n'aquelle caminho. Contar com a policia do Griqualand para o proteger era contar com uma protecção pouco efficaz. Depressa se faz uma partida grossa, e, antes que alguem interviesse, podia Cypriano pagar com a vida o prejuizo que os seus trabalhos ameaçavam fazer aos mineiros da Africa Austral.

Alice andava portanto muito desassocegada, e não pôde deixar de manifestar a sua inquietação ao joven engenheiro. Este tranquillisava-a como podia, agrade cendo-lhe sempre as suas intenções. N'aquelle interesse da donzella via elle a prova de um sentimento mais terno, que demais já não era entre elles um segredo.

Ainda que não fosse senão por este motivo Cypriano applaudia-se de que a sua tentativa provocasse da parte de miss Watkins uma expansão mais intima... e continuava com energia no seu trabalho.

— O que faço, menina Alice, é para nós ambos! dizia-lhe elle muitas vezes.

Mas miss Watkins, observando o que se dizia nos claims, vivia em sustos continuados.

E não era sem rasão. Elevava-se contra Cypriano um tolle, que não havia de limitar-se ás recriminações nem ás ameaças, mas devia chegar até um começo de execução.

Effectivamente Cypriano, ao ir uma noite visitar o forno, achou o sitio d'elle saqueado. Durante uma ausencia de Bardik, tinham alguns homens, aproveitando-se da obscuridade, destruido em poucos minutos a obra de muitos dias. Tinha sido demolida a edificação de tijolo, quebradas as fornalhas, apagados os fogos, partidos e dispersos os utensilios. Nada restava do material que tantos cuidados e trabalhos tinham custado ao joven engenheiro. Era preciso começar tudo de novo, — se elle não era homem que cedesse diante da força, — ou aliás abandonar a partida.

«Não! exclamou elle; não! Não hei de ceder, e amanhã vou queixar-me dos miseraveis que destruiram o que era meu! Veremos se ha justiça no Griqualand !»

Havia justiça, sim, — mas não aquella com que o joven engenheiro contava.

Sem dizer nada a pessoa alguma, sem mesmo contar a miss Watkins o que se tinha passado com receio de lhe causar um novo terror, Cypriano voltou para a sua cabana, e deitou-se muito resolvido a queixar-se no dia seguinte, ainda que tivesse de ir ao governador do Cabo.

Teriam passado duas ou tres horas que tinha adormecido quando acordou sobresaltado ao ruido da porta que se abria.

Cinco homens com mascaras pretas, armados de revolveres e espingardas, penetravam no seu quarto. Traziam aquella especie de lanternas, que em terras inglezas se chamam bull's eyes — olhos de boi, — e vieram collocar-se em silencio á roda do leito.

Cypriano nem sequer por um instante teve a idéa de tomar a serio aquella manifestação mais ou menos tragica. Imaginou que fosse alguma brincadeira, e poz-se ao principio a rir, apesar de que, para fallar a verdade, não tivesse grande vontade de o fazer, e achasse a partida de detestavel gosto.

Mas pousou-lhe no hombro mão brutal, e um dos homens mascarados desdobrando um papel que trazia, começou com voz nada divertida a ler o seguinte:

«Cypriano Méré :

«Serve este para o avisar de que o tribunal secreto do acampamento de Vandergaart, reunido em numero de vinte e seis membros, e deliberando em nome da salvação commum, hoje, á hora da meia noite e vinte cinco minutos, o condemnou por unanimidade á pena de morte.

«É accusado e convicto de ter, por meio de uma descoberta intempestiva e desleal, ameaçado os interesses e as vidas, tanto propria como das familias de todos os homens que, ou no Griqualand ou n'outras partes, exercem a industria de pesquiza, córte e venda dos diamantes.

«O tribunal, na sua sabedoria, deliberou que uma tal descoberta devia ser aniquilada, e que a morte de um só era preferivel á de muitos milhares de creaturas humanas.

«Decretou, pois, que se lhe dêem dez minutos para se preparar a morrer, que se lhe deixe a escolha do genero de morte, que se queimem todos os seus papeis á excepção de qualquer communicação aberta que queira deixar com destino aos parentes, e que a sua habitação seja arrazada até ao chão.

«Assim se faça a todos os traidores!»

Cypriano, ouvindo a sua condemnação por aquella fórma, começou a sentir-se muito abalado na primeira convicção, e perguntou a si mesmo se, conhecidos os costumes selvagens da terra, não seria aquella comedia mais séria do que elle tinha julgado.

O homem, que o segurava pelo hombro, encarregou-se de dissipar as suas ultimas duvidas a este respeito.

Faziam conciliabulos (pag. 278).

— Levante-se immediatamente! disse-lhe elle com grosseria. Não temos tempo a perder.

— É um assassinato! respondeu Cypriano, que saltou resolutamente abaixo da cama para vestir algum fato.

Sentia mais indignação do que terror, e concentrava todo o poder da sua colera no que lhe acontecia com o sangue frio que poderia empregar em estudar um problema de mathematica. Quem eram aquelles homens? Não conseguiria adivinhal-o, nem mesmo pelo metal de voz. Sem duvida se ali estavam alguns conhecidos d'elles, tinham a prudencia de se conservar calados.

— Já escolheu o genero de morte que prefere?... perguntou o mascarado.

— Não tenho escolha alguma a fazer; e apenas protesto contra o crime odioso com que se vão manchar! respondeu Cypriano com voz firme.

— Pois proteste, nem por isso deixará de ser enforcado! Tem alguma disposição a escrever?

— Cousa alguma que possa confiar a assassinos!

— Pois então vamos! ordenou o chefe.

Collocaram-se dois homens aos lados do joven engenheiro, e formou-se o cortejo para se dirigir para a porta.

— Mas n'aquelle instante produziu-se um incidente inesperado. No meio d'aquelles justiceiros de Vandergaart-Kopje acabava de se precipitar de chofre um homem.

Era Matakit. O joven cafre, que as mais das vezes vagueava durante a noite nos arredores do acampamento, tinha sido incitado por instincto a seguir aquelles homens mascarados, no momento em que elles se dirigiam para a cabana do joven engenheiro para lhe metter a porta dentro. Ahi tinha ouvido tudo o que se tinha dito e comprehendêra o perigo que ameaçava o seu patrão. Immediatamente, sem hesitar, e sem attender ao que lhe poderia acontecer, empurrou os mineiros e atirou-se a os pés de Cypriano.

— Paesinho, porque é que estes homens te querem matar? exclamou elle agarrando-se ao patrão apesar dos esforços que os homens mascarados faziam para o afastar.

— Porque fiz um diamante artificial! respondeu Cypriano, apertando commovido as mãos de Matakit, que não se queria separar d'elle.

— Oh! paesinho, como eu sou desgraçado e estou envergonhado pelo que fiz! repetia o joven cafre chorando.

— Que queres tu dizer com isso? exclamou Cypriano.

— Sim! Vou confessar tudo, visto que te querem matar! respondeu Matakit. Sim!... a mim é que devem matar... porque fui eu que puz o diamante na fornalha!

— Enxotem esse fallador.

— Já disse que fui eu que puz o diamante no apparelho! repetia Matakit barafustando. Sim!... fui eu que enganei o paesinho!... Fui eu que o quiz persuadir de que a sua experiencia tinha dado bom resultado!

E punha tão feroz energia nos seus protestos que se resolveram a dar-lhe attenção.

— Isso é verdade? perguntou Cypriano, a um tempo surpreso e contrariado pelo que ouvia.

— É! É! Cem vezes verdade!

Já estava sentado no chão, e todos o escutavam, porque o que elle dizia ia mudar completamente o estado da questão.

— N'aquelle dia do grande desabamento, continuou o preto, quando eu fiquei enterrado no entulho, tinha achado um grande diamante!... Tinha-o na mão, e estava pensando no modo de o esconder, quando a parede caiu em cima de mim, como para me castigar pelo meu criminoso pensamento!... Quando depois voltei à vida, encontrei aquella pedra a cama para onde o paesinho me tinha mandado levar!... Quiz dar-h'a, mas tive vergonha de confessar que era um ladrão, e esperei uma occasião favoravel... Exactamente algum tempo depois o paesinho quiz tentar fazer um diamante e encarregou-me de activar o fogo!... Mas de repente, no segundo dia, estando só eu no laboratorio, rebenta o apparelho com um barulho espantoso e pouco faltou para que eu não fosse morto pelos estilhaços!... Pensei então que o paesinho soffreria desgosto por ter falhado a experiencia!... Puz então na peça, que estava rachada, o grande diamante, bem envolvido n'um punhado de terra, e apressei-me a concertar tudo por cima da fornalha para que o paesinho não percebesse nada!... Depois esperei sem dizer cousa alguma, e quando o paesinho achou o diamante, estava bem contente!

Uma formidavel gargalhada, que os cinco homens mascarados não poderam reprimir, echoou ao terminar a narrativa de Matakit.

Cypriano, esse, não ria e mordia os beiços despeitadissimo.

Não era possivel haver engano, pela maneira com que o cafre fallava! O que elle dizia era evidentemente verdade. Debalde Cypriano procurava nas suas recordações ou na imaginação motivos para pôr em duvida ou contradizer mentalmente a affirmativa do cafre. Debalde pensava elle:

«Um diamante natural, exposto a uma temperatura como a da fornalha, ter-se-ía volatilisado!...»

O simples bom senso respondia-lhe que a gemma, protegida por um involucro de argilla, podia muito bem ter escapado á acção do calor ou soffrel-a apenas parcialmente! Talvez até fosse aquella torrefação que lhe desse a côr negra! Talvez elle se tivesse volatilisado e de novo crystallisado dentro do involucro !

Todos estes pensamentos se accumulavam no cerebro do joven engenheiro, associando-se uns aos outros com invisivel rapidez.

Estava estupefacto!

— Recordo-me muito bem de ter visto o pedaço de barro na mão do cafre, quando foi o desabamento, observou então um dos homens quando a hilaridade se acalmou um pouco. E até o apertava tanto entre os dedos crispados que se desistiu de lh'o tirar!

— Pois está claro! Não pode haver a menor duvida! respondeu outro. É lá possivel fazer diamantes! Na verdade fomos bem tolos em acreditar em similhante asneira!... Seria o mesmo que fazer uma estrella!

E pozeram-se outra vez todos a rir.

Cypriano com certeza soffria mais com aquella alegria dos sujeitos do que tinha soffrido com a sua brutalidade.

Finalmente os dois homens fizeram um breve conselho em voz baixa, e um d'elles tomando a palavra disse:

— Somos de opinião que se deve suspender a execução da sentença pronunciada contra si, Cypriano Méré! Vae ficar livre! Mas lembre-se de que a sentença permanece suspensa sobre a sua cabeça! Ao menor signal, á mais pequena palavra para informar a policia, será ferido sem piedade!... Para bom entendedor meia palavra basta!

Disse, e dirigiu-se para a porta seguido pelos companheiros.

O quarto ficou mergulhado na obscuridade. Cypriano poderia imaginar que tinha sido apenas victima de um pesadello. Mas os soluços de Matakit, que estava estirado no chão e chorava ruidosamente com a cabeça entre as mãos, não lhe deixaram pensar que não fosse realidade tudo quanto tinha succedido.

De modo que era verdade que acabava de escapar á morte, mas á custa da maior das humilhações! Elle, engenheiro de minas, elle, alumno da escola polytechnica, chimico distincto, geologo já celebre, tinha-se deixado enganar pelo grosseiro ardil de um miseravel cafre! Ou antes era á sua propria vaidade, á sua ridicula presumpção que elle devia aquelle engano sem qualificação! Tinha levado a cegueira ao ponto de achar uma theoria para a sua formação crystallina!...

Não se podia ser mais ridiculo!... Pois não pertence só á natureza, ajudada pelo tempo, o levar a cabo taes obras ?... E comtudo quem se não teria enganado com aquella apparencia? Elle esperava o bom resultado, tinha tudo preparado para o alcançar, e devia logicamente suppor que o tinha obtido! Até as dimensões anormaes do diamante contribuiam para sustentar aquella illusão!... O proprio Despretz a teria tido!... Não estão a acontecer todos os dias equivocos d'estes?... Não se veem numismatas dos mais experientes acceitar como verdadeiras medalhas falsas?

Cypriano procurava animar-se com aquelles pensamentos. Mas de repente teve uma idéa que o gelou:

E a minha memoria para a Academia!... Oxalá que aquelles tratantes lhe não tenham deitado as mãos !»

Accendeu uma véla. Não; graças ao céu a memoria ainda ali estava! Ninguem a tinha visto! Só respirou descansado depois de a queimar.

Entretanto a afflicção de Matakit era tão grande que foi preciso decidir-se a socegal-o. Não foi difficil. Ás primeiras palavras do paesinho, o pobre rapaz pareceu voltar á vida. Mas Cypriano, affirmando-lhe que não lhe queria mal e lhe perdoava de bom grado, fel-o comtudo com a condição de que não tornaria a fazer outra.

Matakit assim o prometteu em nome do que havia de mais sagrado, e, tendo-se deitado o seu patrão, fez o mesmo.

E assim acabou aquella scena, que ameaçára terminar em tragedia!

Mas se tal foi o seu desenlace para o joven engenheiro, não havia de ser igual para Matakit.

No dia seguinte, effectivamente, quando se soube que a Estrella do Sul era nem mais nem menos que um diamante natural, que esse diamante tinha sido achado pelo joven cafre, que lhe conhecia perfeitamente o valor, todas as suspeitas contra elle voltaram com mais força. John Watkins poz-se a gritar que não podia deixar de ser Matakit o ladrão da inestimavel pedra! Pois não tinha o cafre confessado que pensára em se apossar d'ella a primeira vez? Logo era evidente que a tinha roubado na sala do festim.

Debalde Cypriano protestou, querendo tornar-se responsavel pela probidade do cafre; não lhe deram ouvidos, o que prova plenamente que Matakit, o qual jurava pela sua completa innocencia, tinha andado mil vezes bem em fugir de Griqualand, e mil vezes mal em voltar para lá.

Mas então o joven engenheiro, que não queria desistir, apresentou um argumento que ninguem esperava, e que na sua idéa devia salvar Matakit.

— Acredito na innocencia do cafre, disse elle a John Watkins, e demais, ainda que elle fosse culpado, ninguem tem nada que ver com isso senão eu! Quer fosse natural quer artificial, o dimante pertencia-me a mim, antes de eu o offerecer á menina Alice.

— Ah! com que então o diamante pertencia-lhe? disse mister Watkins com um modo singularmente chocarreiro.

— Está claro, tornou Cypriano. Pois não foi achado no meu claim por Matakit, que estava ao meu serviço?

— Isso é certo, respondeu o fazendeiro, e por conseguinte é meu exactamente pelas condições do nosso contrato, pois que me devem ser entregues em plena propriedade os tres primeiros diamantes que forem achados na sua concessão.

Armados de revolveres (pag. 279).

Cypriano ficou atordoado e nada achou que responder.

— É justa a minha reclamação? perguntou mister Watkins.

Atirou-se por fim pela janella (pag 293).

— Inteiramente justa! respondeu Cypriano.

— Então ficava-lhe muito obrigado se quizesse reconhecer por escripto o meu direito, para o caso em que podessemos obrigar aquelle tratante a restituir o diamante que tão atrevidamente roubou !

Cypriano pegou n'uma folha de papel em branco e escreveu:


«Declaro que o diamante achado no meu claim por um cafre ao meu serviço pertence, pelas condições do meu contrato de concessão, ao senhor John Stapleton Watkins.

Cypriano Mére»


Ha de confessar-se que esta circumstancia fazia desvanecer todos os sonhos do joven engenheiro. Effectivamente o diamante, se algum dia viesse a apparecer, pertencia, não como presente, mas como legitima propriedade a John Watkins, e d'esta fórma se abria entre Alice e Cypriano um novo abysmo que devia ser cheio com tantos milhões.

E comtudo, se a relamação do fazendeiro prejudicava os interesses dos dois jovens, muito maior prejuizo causava a Matakit! Agora era a John Watkins que elle tinha feito o mal!... Era John Watkins o roubado! E John Watkins não era homem que abandonasse uma acção, pois que tinha a convicção de ter alcançado o ladrão

De modo que o pobre diabo foi apanhado, levado para a prisão, e antes de se passarem doze horas tinha sido julgado, e, apesar de tudo quanto Cypriano disse em seu favor, condemnado a morrer na forca. ... se se não decidisse ou não conseguisse restituir a Estrella do Sul.

Ora, como na realidade elle a não podia restituir, porque nunca lhe tinha pegado, não podia haver a menor duvida no caso, e Cypriano já não sabia o que fizesse para salvar o desgraçado que elle persistia em não julgar culpado.