A Luneta Mágica/II/XVI
Esta última experiência afligiu-me profundamente.
Quê! até nos seres irracionais, e entre eles na própria avezinha, mimo da criação, sorriso de anjo e raio de sol nascente tornados pelo criador em passarinho, no próprio beija-flor só me é dado encontrar maldades e perversão!!!
Sempre turvos e sinistros desenganos! sempre o mal neste mundo de peste e de misérias!... este mundo será pois o inferno, ou pode o inferno ser pior que este mundo?...
Deixei o Passeio Público, maldizendo da vida, detestando o homem, a mulher, toda criação, pedindo a Deus a morte, como o indigente faminto pede pão, como a escrava que é mãe, e a quem a maldição do cativeiro ainda não deturpou e anulou a sensibilidade, deseja e pede a liberdade do filho.
Que noite de horror e desespero passei! mas enfim a fadiga, o sofrimento do corpo que respondia às torturas morais da alma, venceram a contenção do espírito que procurava debalde imaginar consolações e lenitivo: ao romper da aurora adormeci.
Lembra-me que meu último sentimento na tormentosa vigília foi de desgosto da vida e de repugnância a toda a humanidade.