A Luneta Mágica/II/XXVIII
E esta!
Por conseqüência estou definitivamente declarado doido pela opinião pública que e a rainha do mundo, e cujos decretos não tem apelação.
A humanidade perversa e infame engenhou o mais seguro dos meios para livrar-se de mim: não há recurso contra ela.
Todos os homens, todas as mulheres cientes do meu poder, todos e com eles e elas todos os médicos, autoridades declaradas e decretadas na matéria dizem— que estou doido!
Não há, não pode haver uma só voz que proteste contra a sentença; porque a todos eles e a todas elas convém que eu seja reconhecido— doido.
Há só uma voz que pode e há de protestar, é a minha, a voz suspeita, a voz do doido.
Por conseqüência estou— doido! ! !
E amanhã, ou hoje mesmo, talvez daqui a uma hora, quatro ou seis policiais quatro ou seis urbanos virão agarrar-me, e hão de conduzir-me ao hospício da Prata Vermelha!...
E meu irmão se mostrará compungido, e a prima Anica fingirá chorar, e a tia Domingas rezara por mim nos seus rosários!!!
E rir-se-ão todos de mim!... e me chamarão o— doido!
Meu Deus! estarei eu realmente doido?...
Ninguém compreende os tormentos que sofri com esta nova perseguição da perversidade dos homens, com esta idéia da — loucura — que começou a agitar-me.
O atordoamento da minha cabeça aumentou, a febre devorou-me com milhões de línguas de fogo e eu bradei em alta voz:
— Água! água! quem me dá água?...