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A Luneta Mágica/IV/XIX

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Um dia tive desejos de possuir um bom cavalo de passeio; falei nisso a Damião, que em breves horas me levou a um negociante que dizia ter os melhores ginetes, e que me apresentou um com as recomendações mais entusiásticas.

Examinei o animal, e achei-o formosíssimo; o negociante asseverou-me e jurou que o cavalo era leão pela soberbia, ovelha pela mansidão, camelo pela paciência, águia pela velocidade.

Comprei caríssimo o singular e maravilhoso cavalo, e mandei-o recolher a uma cocheira.

No dia seguinte quis experimentar o meu ginete, e o dono da cocheira se opôs a isso, informando-me que o pobre animal era cego, e aberto dos peitos.

Revoltei-me contra o abuso de confiança, de que eu fora vítima, e fixando a minha luneta mágica, examinei de novo o cavalo, e reconheci que ele havia cegado de súbito e de súbito adoecido na noite que última passara, conservando ainda assim todos os sublimes dotes, que o vendedor exaltara.

Carreguei com o prejuízo; mas em todo caso honrando o testemunho leal, verdadeiro, consciencioso do negociante de cavalos.