A Morte do Lidador/VI
Cansados de largo combater, reduzidos a menos de metade em número e cobertos de feridas, os cavaleiros de Cristo invocaram o seu nome e fizeram o sinal da cruz. O Lidador perguntou com voz fraca a um pajem, que estava ao pé das andas, que nova revolta era aquela.
— Os mouros foram socorridos por um grosso esquadrão - respondeu tristemente o pajem. - A Virgem Maria nos acuda, que os senhores cavaleiros parece recuarem já.
O Lidador cerrou os dentes com fôrça e levou a mão à cinta. Buscava a sua boa toledana.
— Pajem, quero um cavalo. Onde está a minha espada?
— Aqui a tenho, senhor. Mas estais tão quebrado de fôrças!...
— Silêncio! A espada, e um bom ginete.
O pajem deu-lhe a espada e foi pelo campo buscar um ginete, dos muitos que andavam já sem dono. Quando voltou com êle, o Lidador, pálido e coberto de sangue, estava em pé e dizia, falando consigo:
— Por Santiago que não morrerei como vilão da beetria onde entrou cavalgada de mouros!
E o pajem ajudou-o a montar o cavalo.
Ei-lo o velho fronteiro de Beja! Semelhava um espectro erguido de pouco em campo de finados: debaixo de muitos panos que lhe envolviam o braço e o ombro esquerdo levava a própria morte; nos fios da espada, que a mão direita mal sustinha, levava, porventura, ainda a morte de muitos outros!