A Pulseira de Ferro/XV

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Três meses depois, Candeias já tinha esquecido o antigo vigário, e já em torno do novo vigário a vida tecia a sua teia implacável. Chicão continuava, muito entretido, - na vila, com os seus deveres de sacrista; no bairro onde residia, com os seus amores vagabundos e cautos por aquelas barrocas e matos... De repente, a esposa de Chicão, desconfiada, fareja um dos crimes da metade, coisa velha, persegue-o, descobre-o, queixa-se aos irmãos, dois caboclos duros, e arma-se um grande reboliço com muita pinga, muito choro, muita descompostura, várias porretadas e facadas. No fim, tudo se esclareceu na polícia. Chicão há muito que desfrutava a macia passividade de uma mulatinha meio sarambé, meio caborteira, e dela houvera um filho. Caborteiros ambos, combinaram, a conselho da Rosa, a cozinheira, esperta como um doutor, largar o petiz nas mãos dadivosas e puras do padre. Tudo eram benefícios nessa solução: livrava-se Chicão das iras da esposa, forrava-se a mulata ao castigo possível do pai, ganhava a criança um protetor capaz de a fazer feliz, coitadinha! Assim, um dia, muito cedo, Chicão pegou no pequeno fardo, atravessou em silêncio a vila silenciosa, e foi largá-lo, com uma chupeta na boca, à entrada da igreja. Depois, chamou o Vito, pô-lo de guarda ao templo, recomendando-lhe, com uma carranca imperativa, que não saísse da sacristia, e foi chamar o padre... O resto sabe-se.

Candeias achou imensa graça à finura dos brutos, e riu-se regaladamente da peça pregada a padre Guilherme de Meneses.

S. Paulo, maio de 1919.