Contos Tradicionaes do Povo Portuguez/O jogo do Pira

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107. O JOGO DO PIRA

Um estudante queria comer sem pagar, e andando uma vez á tuna foi parar a casa de uma estalajadeira, onde pediu tudo o que lhe apeteceu. Depois de bem comido, tratou de se safar, e propoz á estalajadeira que lhe ensinaria um jogo novo muito bonito.

— Então como é o jogo?

Disse-lhe o estudante:

— Segure n'este novello, e deixe-me a ponta da linha porque é o jogo do Pira. Ora veja como é que se joga.

Elle começa a puchar a linha, andando de costas para a porta, e a dizer: Pira, pira, pira. Foi saindo e assim que se apanhou na rua, bota a correr dizendo: Pira por aqui abaixo. E ninguem mais o apanhou.

(Porto.)




Notas[editar]

107. O jogo do Pira. — Este conto acha-se no seculo XVI, em uma comedia do celebre Giordano Bruno, intitulada Candelajo; Barra, que é um freguez, para não pagar na taverna, propõe varios jogos, que são successivamente regeitados, e por fim propõe darem uma carreira, o que lhe serve de pretexto para se escapulir. No seculo XVIII este conto teve tambem uma nova fórma dramatica na comedia de cordel O gallego lorpa ou os Tolineiros. Vid. Historia do theatro portuguez, t. III.