Contos Tradicionaes do Povo Portuguez/O tolo e as moscas

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114. O TOLO E AS MOSCAS

Um maluquinho trazia a cabeça rapada, e não podia supportar as picadellas das moscas; lembrou-se de apresentar uma queixa contra ellas ao juiz, que o attendeu para o disfructar. O juiz deu por sentença, que onde quer que visse uma mosca podia usar do direito de legitima defeza atirando-lhe uma pancada. O maluquinho confirmou a sentença fazendo que o juiz a repetisse. N'isto poisa uma mosca na cabeça do juiz; o tolo acerta-lhe uma pancada e o juiz cahiu para a banda. Prenderam-no, mas elle defendeu-se com a sentença, e não tiveram outro remedio senão mandal-o embora, porque lá diz o outro: Com tolos nem para o céo.

(Ilha de S. Miguel.)




Notas[editar]

114. O tolo e as moscas. — Pittré colligiu tambem esta facecia nos seus Contos sicilianos. (Vid. critica na Revue des Deux Mondes, 15 de Agosto de 1875, p. 857.)