Diccionario Bibliographico Brazileiro/André João Antonil

Wikisource, a biblioteca livre

André João Antonil - Nasceu em S. Paulo entre os annos de 1670 e 1680. Barbosa Machado nada diz deste autor, e Innocencio da Silva, se referindo a elle só pela noticia que teve da obra que abaixo menciono, o considera de origem italiana, e supposto o nome que figura no rosto da obra, o que mais certo lhe parece, por ver no final do livro o auctor assignal-o por - O anonymo Toscano.

Com effeito é isto original. Talvez, supponho eu, o auctor, já prevenido da perseguição ou da prohibição que estava preparada á sua obra, quizesse assim lançar a duvida ou a confusão sobre o verdadeiro autor. Menciono aqui este livro, porque estou informado por pessoa muito competente da provincia de S. Paulo, de que ahi nascera Andre João Antonil, que escreveu:

- Cultura e opulencia do Brazil por suas drogas e minas, com varias noticias curiosas do modo de fazer o assucar, plantar e beneficiar o tabaco; tirar ouro das minas, e descobrir as de prata; e dos grandes emolumentos que esta conquista da America meridional dá ao reino de Portrgal com estes e outros generos e contratos reaes. Lisboa, 1711, 221 pags in-4.º - A' publicação deste livro de inestimavel merito e valor, seguiu-se logo a suppressão delle, decretada por conveniencias politicas e razões de estado, até que foi reimpresso no Rio de Janeiro em 1837, 221 pags. in-8.º

Ha um trecho na introducção desta edição, transcripto pelo autor do Diccionario bibliographico portuguez, que acho tão curioso, e abona tanto o merecimento do livro, que passo a reproduzir aqui.

« O distincto conselheiro Diogo de Toledo Lara e Ordonhes possuia um livro que estimava tanto, que não tinha ontre os outros na sua estante, mas sim na gaveta pequena de uma commoda. Pediu-se-lhe muitas vezes que o désse á bibliotheca, hoje publica, ao que nunca se pôde resolver, mesmo dando outros. Tal era a estimação em que o tinha!

« Procurou-se, pois, o livro desde o começo do anno de trinta até depois da morte do mesmo conselheiro, e não se descobrindo no Rio de Janeiro, recorreu-se a seu irmão e herdeiro, o general Arroches, em S. Paulo, o qual contestou que não lhe havia sido remettido.

« Ha tres annos, pois, que segundo ordens se fizeram pesquizas em Lisboa, onde em fins do anno passado se encontrou um exemplar, declarando o possuidor que o não venderia por cem mil cruzados; tal é a estimação, em que o tem ! Mas, como homem generoso, permittiu que se copiasse. « No mesmo tempo destas pesquizas em Lisboa se escrevia ao celebrado sabia, antiquario portuguez João Pinto Ribeiro, o qual depois de varias contestações, asseverando o mau resultado de suas indagações, por fim escreveu e sua carta chegou com o manuscripto, declarando os nomes de quatro pessoas que possuiam exemplares, e entre ellas o nome de um major, ha pouco, chegado alli do Rio de Janeiro; quem sabe si não é o do defunto conselheiro? - accrescentando que por $ 7.200 se obteria um exemplar, e que o livro fóra prohibido no tempo de dom João V pelo governo portuguez.

« Este livro é pois a Cultura e riqueza do Brazil, etc. etc. em 1711. Do titulo inferirão os leitores quanto elle e util a todos os estudiosos da economia politica e em geral a todos os brazileiros, que ahi acharão a certeza de que o seu abençoado paiz ja então era a mais rica parte da America emquanto a producções ruraes.»

Ficam, em vista do que ahi deixo, bastante demonstradas as conveniencias politicas e as razões de estado que determinaram a suppressão da obra do escriptor brazileiro por ordem do governo portuguez.

A bibliotheca nacional possue cópias de excerptos de alguns capitulos desta obra, sob o titulo de

- Opulencia e cultura do Brazil nas fabricas do assucar, tabaco, ouro, couro e sola. Fragmentos tirados de um livro da academia real das sciencias, impresso em Lisboa em 1711, cujo foi prohibido per El-rei dom João V por lhe dizerem que por dito livro estava publico todo segredo do Brazil aos estrangeiros, etc.