Diccionario Bibliographico Brazileiro/D. Anna Alexandrina Cavalcanti de Albuquerque
D. Anna Alexandrina Cavalcanti de Albuquerque - Filha do tenente-coronel Joaquim Cavalcanti de Albuquerque e de dona Alexandrina Cavalcanti de Albuquerque, nasceu no municipio de Nazareth, da provincia de Pernambuco.
Recebendo apenas uma educação rudimentar, muito joven ainda possuia um bello volume de composições poeticas, cheias de suavissima e amena naturalidade, segundo a opinião muito competente de quem ministrou-me as presentes informações; mas um dia o desengano varreu-lhe as crenças da primeira edade, e ella n'uma sorte de delirio entregou ás chammas esse volume e com elle as paginas de suas apaxionadas confidencias, de seus sonhos de menina. Entretanto dona Anna de Albuquerque continuou a cultivar com esmero a poesia e adquiriu uma instrucção litteraria, ainda pouco commum no seu sexo, como se reconhece na
- Carta ao doutor Henrique Capitulino Pereira de Mello (enviandolhe sua primeira composição poetica) - Vem no livro Pernambucanos illustres de pag. 170 a 172. Nesta carta escreve dona Anna:
« Ah! senhor, quando espiritos fortes e illustrados muitas vezes baqueiam, sem ao menos completarem o apparatoso pensamento de Balsac, como não baquearei eu, que por minha inculta intelligencia e fraqueza intellectual sou, como pharizeu, expulsa do templo da sciencia, onde apar de Ariosto e Tasso vem sentar-se Sapho, a suicida, e a par de Petrarcha a doce Alcipe, a Hypocrene de Filinto Elisio?
« Quantas vezes no silencio de meu quarto, a sós commigo, tento synthetisar as ideias que se atropellam em meu cerebro e tornal-as sensiveis sem poder conseguil-o nunca! E' que os caminhos da sciencia são-me defêzos; minha imaginação abrazada quer abraçal-os e não póde. » « Para a mulher ó ainda hoje muito difficil alcançar o vôo; graças, porém, aos alicerces do seculo XVIII, lançados no mundo por J. J. Rousseau, Voltaire... já á voz de Stuart Mill e outros talentos vae cahindo por terra o anomalo pensamento de madame de Pompadour, que-a mulher só deve enfeitar-se e ataviar-se para parecer bonita. Será, porém, ainda neste seculo que a mulher poderá se hombrear com o homem ao banquete da sciencia; mas surgirá emfim a aurora da redempção, e illuminada pelo clarão ridente dessa luz divina, a sciencia se precipitará com mais força no caminho do progresso. Dispa-se o homem de seu inusto egoísmo, erga a mulher até si, sente-se com ella á mesa do estudo, e muitos delles deverão a essa meiga alliada, que tudo cede ao que ama, o seu logar no pantheon da historia.
« Eu disse que lhe satisfaria o pedido que me fez; mando-lhe pois uma poesia, a primeira que compuz, primeiro canto que meus tremulos e medrosos dedos arrancaram da lyra, primeira expansão de uma alma ardente e enthusiasta n'um arroubo apaixonado. Eu tinha então a minha fronte cingida pela grinalda eternamente poetica dos quinze annos; em torno de mim tudo era luz e perfume, meus, labios só sabiam rir e cantar, meu coração só sabia crer e amar. Cada inverno que passa leva-nos um sonho risonho, uma crença côr de roza, e assim se esgota o cofre das illusões.
« Nessa primeira poesia vejo-me a criança feliz e amorosa, e nas outras a mulher de fronte pensadóra, olhar frio e riso sem expressão. A mulher por conseguinte nada lhe manda; contente-se com o presente da criança...»
A poesia, que acompanhou a carta, de que transcrevi o trecho acima, tem por titulo:
- O que mais queres?...- Vem no citado livro, e della transcrevo
Dou-te o meu coração cheio de enlevos
As esperanças repletas de fulgores,
De um futuro sonhado, cór de rosa...
O que mais posso dar-te, meus amores?!...
Ah! dou-te os sentimentos de minh'alma,
As minhas illusões ainda em flores,
peito que transborda de ternura...
O que mais posso dar-te, meus amores?!
Dou-te mais esta vida que só prézo
Si partilhas commigo os dissabores,
As glorias e venturas deste mundo...
O que mais posso dar-te, meus amores?!
Dou-te tudo, oh! querido de minh'alma,
P'ra merecer um só de teus favores,
Alma e vida - contente sacrifico...
O que mais posso dar-te, meus amores?!
Dona Anna de Albuquerque não deu á publicidade suas composições poeticas posteriormente escriptas, que, segundo sou informado, são numerosas. Tem publicado algumas em diversas revistas, como a Lucta, o Ensaio, o Correio da Noite e o Jornal de Aracajú, no qual se acha:
- O negro: romancete - que tambem vem transcripto na obra Pernambucanas illustres.