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Dicionário de Cultura Básica/Positivismo

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POSITIVISMO (doutrina filosófica e científica, Materialismo) → Realismo

O homem é aquilo que come (Feuerbach)

Do latim tardio positivum, formado a partir de positum, forma abreviada de postus, particípio passado do verbo ponere (pôr, colocar), o termo "Positivismo" passou a indicar uma doutrina filosófica e científica fundamentada sobre o que é real, aquilo que pode ser observado pela experiência. Neste sentido, é quase sinônimo de "Materialismo", assim como formulado pelo filósofo alemão Feuerbach, que ensinara que tudo é matéria, sendo nossa inteligência, que os religiosos chamam de "alma", apenas uma substância composta de células mais finas. Portanto, o homem é o que come, pois o alimento, a matéria, se transforma em espírito. Após a Revolução Industrial, o avanço das ciências naturais e a tecnologia determinaram uma forte reação contra os sistemas abstratos, típicos da fase do Romantismo. O progresso da humanidade (→ Humanismo), do ponde vista intelectual e científico, levou à crença de que o homem pudesse resolver todos os problemas existenciais e sociais pelo descobrimento das causas biopsíquicas (raça), dos condicionamentos ambientais (meio) e das determinações temporais (momento histórico). De outro lado, a desilusão dos ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, provocada pelo fracasso da Revolução Francesa e pelos sangrentos episódios de 1848, levaram à crítica da sociedade burguesa, que assentara bases sobre o egoísmo e o individualismo. Conseqüência de tudo isso é o novo culto à sociedade, a "sociolatria", pela qual os interesses e os anseios dos indivíduos são sacrificados em função do progresso da coletividade. O complexo cultural da segunda metade do século XIX é dominado pelo materialismo, nas suas variadas formas: Positivismo, Realismo, Determinismo, Evolucionismo, Cientificismo, Liberalismo, Ambientalismo, Progressismo, Contra-Espiritualismo, Anticlericalismo, Sociologismo, Ateísmo.

O pai da filosofia positivista foi o pensador francês Augusto Comte (1798–1857). Segundo a sua teoria dos "três estados", a humanidade passara por três fases de desenvolvimento. No estado "teológico", regido pelo politeísmo, a imaginação popular criara seres sobrenaturais para explicar os fenômenos da natureza, sendo a sociedade dirigida pelo militarismo. No estado "metafísico", em que predomina o monoteísmo, a imaginação é substituída pela razão ou argumentação, e a sociedade é dirigida por juristas, que estabelecem contratos sociais entre governantes e governados. No estado "positivista" começa o predomínio da observação: não se procura mais a causa dos fenômenos da natureza física e humana, mas sua existência, seus efeitos e as relações entre os elementos. O conhecimento positivo, devido ao seu teor científico e à sua previsibilidade, enseja o descobrimento de meios apropriados para resolver os problemas de uma coletividade, na tentativa de instaurar a fraternidade entre os homens. Daí a sociolatria, apregoada pelo Positivismo, além de seu aspecto filosófico e social, apresentar também um caráter religioso, embora negue qualquer forma de transcendência. A nova síntese tentada pelo pensamento positivista vai estabelecer, no plano científico, o critério da relatividade como abolição de todas as ficções teológicas e metafísicas; no plano étnico, a subordinação do indivíduo ao progresso da espécie e ao interesse da sociedade; no plano estético, a substituição da poesia subjetiva e intimista por um tipo de arte objetiva, voltada para a coletividade humana, acima de qualquer individualismo, regionalismo ou nacionalismo. Como teoria do conhecimento, o Positivismo só admite a realidade dos fatos, investigando as relações entre os fenômenos do mundo circunstancial. Preocupado apenas com o "como" os fenômenos acontecem, o positivismo evita responder às perguntas fundamentais da filosofia tradicional: ao quê (essência), ao porquê (causa), ao para quê (finalidade). Para tanto, utiliza-se do método experimental, pelo qual a observação é seguida da comprovação. Convém salientar que o Positivismo materialista é uma conseqüência da ideologia do Iluminismo e do Enciclopedismo setecentistas, que iniciaram a crença no constante progresso da civilização mecânica e industrial.