Dicionário de Cultura Básica/Monteiro

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MONTEIRO Lobato (escritor paulista)

"Um país se faz com homens e livros"

José Bento Monteiro Lobato (1882–1948) é uma figura fundamental na história da cultura brasileira. Homem proteiforme, nos deixou o legado da luta pela liberdade de pensar e agir, sem se dobrar perante qualquer forma de opressão ou convencionalismo. Nele encontramos junto o mundo do campo e da cidade, do nacionalismo brasileiro e da admiração pelo progresso do anglo-americanismo, da cultura clássica e do antiacademicismo, da tradição e do modernismo, do passado e do futuro, da esquerda e da direita política, da realidade e da fantasia. A presença constante de seu espírito crítico permite-lhe a superação dessas contradições, estando sempre a rever seus pontos de vista. Nascido em Taubaté, após cursar a Faculdade de Direito na capital do Estado de São Paulo, volta para o interior, exercendo a função de Promotor público em Areias. Herda do visconde de Tremembé, seu avô, uma fazenda e muda de profissão, tornando-se agricultor. Sua atividade de escritor começa cedo, publicando artigos em várias revistas, até fundar sua própria editora. De São Paulo muda-se para o Rio de Janeiro, de lá para Nova York, e depois na Argentina, regressando ao Brasil um ano antes de sua morte. O motivo dessas estadias no exterior deve-se a sua insatisfação com o Estado Novo de Getúlio Vargas. Em 1941, foi preso por ter enviado ao Presidente uma carta de crítica à política brasileira sobre a exploração do subsolo, ficando famosa a expressão "o petróleo é nosso"! Sua imensa e variada produção literária tem dois pilares convergentes: o culto do sentimento patriótico, que inclina Monteiro Lobato para um profundo nacionalismo, e a educação da juventude, que deve ter por base a cultura antiga e o conhecimento da realidade brasileira. Na maior parte de sua obra os ensinamentos são dados através de historinhas ou contos, cujos personagens principais ou são mitos antigos reelaborados ou inventados a partir do contato com a realidade rural brasileira. Da Mitologia greco-romana Lobato aproveitou a lenda dos Argonautas, nas obras O Minotauro ("Maravilhosas aventuras dos netos de Dona Benta na Grécia Antiga") e no Touro de Creta, recontando a lenda do ser com cabeça de touro e corpo de homem, vencido por Teseu, que saiu do Labirinto (construído por Dédalo, pai de Ícaro) com a ajuda do fio de Ariadne. Outros dois contos, A Hidra de Lerna (região da antiga Argólida) e Hércules e Cérbero, são recriações do mito grego da serpente de nove cabeças que, cortadas, renasciam. Um dos Doze Trabalhos de Hércules (outro escrito do autor paulista) foi destruir esse animal venenoso. Outras historinhas inspiradas na civilização antiga são: O Leão de Neméia, O Javali de Erimanto, os Cavalos de Diomedes, Os Bois de Gerião, O Cinto de Hipólita, As Aves do lago Estinfale, O Pomo das Hespérides, No Tempo de Nero, O Centaurinho. Além desses personagens calcados sobre a mitologia e a história antiga, Lobato inventou figuras imortais ligadas ao regionalismo rural brasileiro: Narizinho, Saci, O Visconde, O Marquês de Rabicó, Jeca Tatu, Zé Brasil, Emília, Dona Benta, Tia Nastácia. A obra que deu maior popularidade a Monteiro Lobato foi O Pica-pau Amarelo, adaptada para seriado televisivo pela rede Globo com o título "O Sítio do Pica-pau Amarelo".