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Ecos da minh'alma/Os postiguinhos

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Dous singelos postiguinhos
Fez-te Angelina notar;
Dizendo qu′eu os amava,
Tambem os quizeste amar.

Si o meu amor conhecendo,
D′elles tanto góstas já;
Sabendo o que vou contar-te;
Teu affecto augmentará.

Quero dizer-te uma cousa...
Mas de a dizer tenho medo:
Paraque fique tranquilla,
Te peço guardes segredo.

Nem das paredes confies
Aquillo qu′eu te contar;
Que, si o souber, Angelina
Ha de commigo ralhar.

Me ha de chamar palradora;
Ha de queixar-se de mim;
Ha de ficar arrufada,
E não quero vel-a assim.

Esperando que observes
O sigillo que te peço,
Mais socegada, a tal cousa
À revelar-te começo.

Sabe que nos postiguinhos,
— Que tambem quizeste amar, —

Todos os dias risonha,
Vai-se Angelina mirar.

′N elles vai, com desculpavel,
Requintada faceirice,
Procurar a affirmativa
Do que o espelho já lhe disse.

Si visses ′n esses momentos
Os seus meneios gentis,
E radiar ′n ella toda
A mocidade feliz,

Ficáras embevecido
Esse quadro contemplando,
Que a mais dôce das venturas
Te iria n′alma infiltrando.

Ficáras, qual eu me sinto,
Quando a vejo assim faceira
Em frente dos postiguinhos
A meneiar-se ligeira.

Tu, porem, que ver não pódes
Esse quadro encantador,
Que debuxado parece
Por mão do travesso Amor,

Imagina-o, si podéres;
Que, depois de o imaginar,
Juro que has de um idólatra
Dos postiguinhos ficar.


15 de Janeiro 1852.