Espumas Flutuantes (1913)/As Três Irmãs do Poeta
É noite! as sombras correm nebulosas.
Vão tres pallidas virgens silenciosas
Atravez da procella irrequieta.
Vão três pallidas virgens... vão sombrias
Rindo collar n′um beijo as bocas frias...
Na fronte scimadora do — Poeta —,
— «Saude, irmão, eu sou a Indifferença.
Sou eu quem te sepulta a idóa immensa,
Quem no teu nome a escuridão projecta...
Fui eu que te vesti do meu sudario...
Que vais fazer tão triste e solitário?..»
— «Eu lactarei!» — responde-lhe o Poeta.
— «Saude, meu irmão! Eu sou a Fome.
Sou eu quem o teu negro pão consome...
O teu misero pão, misero athleta!
Hoje, amanhã, depois... depois (qu′importa?!)
Virei sempre sentar-me á tua porta...»
— «Eu soffrerei!» — responde-lhe o Poeta.
— «Saude, meu irmão! Eu sou a Morte.
Suspende em meio o hymno augusto e forte.
Marquei-te a fronte, misero propheta!
Volve ao nada! Não sentes neste enleio
Teu cantico gelar-se no meu seio?»
— «Eu cantarei no céo» — diz-lhe o Poeta!
S. Paulo, 25 de Agosto de 1868.