Estátua Falsa

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Só de ouro falso meus olhos se douram;
Sou esfinge sem mistério no poente.
A tristeza das coisas que não foram
Na minh'alma desceu pesadamente.

Na minha dor quebram-se espadas de ânsia,
Gomos de luz em treva se misturam.
As sombras que eu dimano não perduram,
Como Ontem, para mim, Hoje é distância.

Já não estremêço em face do segrêdo;
Nada me aloira já, nada me aterra:
A vida corre sôbre mim em guerra,
E nem sequer um arrepio de mêdo!

Sou estrêla ébria que perdeu os céus,
Sereia louca que deixou o mar;
Sou templo prestes a ruir sem deus,
Estátua falsa ainda erguida no ar...


Paris 1913 - maio 5.