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Fabulas (9ª edição)/6

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O Rato da Cidade e o Rato
do Campo


Certo ratinho da cidade resolveu banquetear um compadre que morava no mato. E convidou-o para um festim, marcando lugar e hora.

Veio o rato da roça, e logo de entrada muito se admirou do luxo de seu amigo. A mesa era um tapete oriental, e os manjares eram coisa papafina: queijo do reino, presunto, pão-de-ló, mãe-benta. Tudo isso dentro dum salão cheio de quadros, estatuetas e grandes espelhos de moldura dourada.

Puseram-se a comer.

No melhor da festa, porém, ouviu-se um rumor na porta. Incontinenti o rato da cidade fugiu para o seu buraco, deixando o convidado de boca aberta.

Não era nada, e o rato fujão logo voltou e prosseguiu no jantar. Mas ressabiado, de orelha em pé, atento aos minimos rumores da casa.

Daí a pouco, novo barulhinho na porta e nova fugida do ratinho.

O compadre da roça franziu o nariz.

— Sabe do que mais? Vou-me embora. Isto por aqui é muito bom e bonito mas não me serve. Muito melhor roer o meu grão de milho no sossego da minha toca do que me fartar de gulodices caras com o coração aos pinotes. Até logo.

E foi-se.


— Está certo! disse tia Nastacia que havia entrado e parado para ouvir. Nunca me hei de esquecer do que passei lá na Lua quando estive cosinhando para São Jorge e ouvia os urros daquele dragão. Meu coração pulava no peito. Só sosseguei quando me vi outra vez aqui no meu cantinho...

Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.


Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.