Fausto (traduzido por Agostinho de Ornelas)/XVII
Não ouviste dizer nada de Barbara?
Cous'alguma. Com pouca gente fallo.
Pois é certo, que a mim Sybilla o disse,
Lá se perdeu em fim. Eis o que fazem
Basofias.
O que foi?
Por ahi corre
Que quando come e bebe a dois sustenta.
Devéras ?
Teve a sorte que mer'cia;
Pois se não se largavam nem de noite!
Eram passeios, dansas lá n'aldéa,
Ella a ser a primeira em toda a parte,
E de vinho e pasteis a regalar-se.
Mettera-se em cabeça que era linda
E não tinha vergonha de ácceitar-lhe
Presentes. Eram beijos e carícias,
Mas por fim lá se foi tambem a honra.
Coitada!
Dó não tenhas! Quando á noite
Ficavamos fiando e vir á porta
Nos não deixava a mãe, ella folgava
Ao-lado do amante; ao pé da entrada,
No banco ou nas escuras alamedas,
Ligeiro lhes corria o doce tempo.
Pois agora que soffra, e vá na Egreja
Penitencia fazer de dó vestida.
Por mulher elle a toma certamente.
Não ha de ser tão tolo. Um moço esperto
Em outro logar pode ir divertir-se;
E até já partiu.
Isso é mal feito.
Ainda que o apanhe paga-o caro!
Arrancam-lhe os rapazes a capella,
E nós á porta vamos espargir-lhe,
Palha picada.
Como pude outr'ora
Tão acre censurar, quando uma moça
Se deitava a perder! Como bastantes
Palavras não achava contra as faltas
Dos outros! Eram negras a meus olhos,
E denegria-as mais, e todavia
Denegridas assaz me não par'ciam.
Benzia-me e fazia-me soberba, —
E agora tambem sou peccadora.
Porém, meu, Deus, o que arrastar-me pôde
Ao mal, era tão doce, tão suave!