Filomena Borges/II

Wikisource, a biblioteca livre


O Borges passou toda a noite na tal saleta contígua à alcova da mulher, estirado num divã, a ouvir o coaxar insuportável de um velho relógio suspenso na parede, justamente sobre sua cabeça.

Que noite, coitado! Que terrível situação para um pobre homem que, durante os seus calmos quarenta anos, nunca passou uma noite fora de sua cama, nunca dormiu menos de sete horas, deitando-se invariavelmente às onze e acordando às seis.

Ele! Ele, que nunca entrara numa pândega, passar uma noite inteira enfronhado em calças pretas, camisa bordada e gravata branca!

E o pior é que o infeliz, no cego empenho de parecer agradável aquela noite à esposa. metera-se num banho de perfumes, e sentia por todo o corpo, atabafado na roupa preta, uma comichão desenfreada.

Pobre noivo! Quanto não sofreste essa noite!

O Borges, mesmo no tempo de rapaz fora o protótipo da ordem, do arranjo e do método. Gostou sempre das coisas no seu lugar — o almoço às tantas, o jantar às tantas, o seu chá com torradas antes de dormir — e nada de se afastar desse regime.

Não podia compreender como houvesse no mundo quem, por gosto, perdesse as horas sagradas do sono, vergado sobre uma banca de jogo, a beber numa taverna, ou a fumar em companhia de mulheres.

Santo homem! Uma simples palavra mais decotada era bastante para fazer refluir-lhe às faces o mais pronto e legítimo rubor. Por isso alguns amigos lhe faziam troça, às vezes; mas, no fundo, todos o respeitavam, todos o amavam. Sabiam já que daquela boca cor de rosa, de dentes imaculados, daquela boca sem vícios, não sairiam a calúnia ou a intriga. Tinham certeza que daquele coração, virgem de paixões, não poderiam brotar o ódio, a inveja e a perversidade.

Conheciam, por longa experiência, a sinceridade daqueles olhos doces e compassivos, que muita vez se umedeceram com as desgraças alheias, e que, aos domingos, nos espetáculos da tarde, iam chorar três horas ao S. Pedro de Alcântara, defronte de um dramalhão de D’Ennery.

Pobre homem! Foi preciso que te casasses para passares mal a tua primeira noite! Tu! que vias no casamento "a última expressão da paz e da estabilidade" tu! que procuravas no matrimônio "o sossego completo, a dignidade do teu lar e o cumprimento de teus deveres de homem com a sociedade e para com a natureza"! Oh! como não te devias sentir indignado!

Não estava, porém, no seu gênio o revoltar-se.

— Não gostava de contendas — não queria estrear por uma desavença a sua vida de casado.

Além disso, amava-a tanto!..., adorava-a de tal forma, que se sentia perfeitamente incapaz de reagir.

— Não fez aquilo com má intenção!..., pensou ele. — Foi talvez por pudor, coitada! ou, quem sabe? talvez tivesse medo desta minha figura!

— É isso! com certeza não foi outra coisa!... concluiu de si para si, a coçar-se, quando a aurora já lhe invadia a sala pelos vidros da janela.

E foi nas pontas dos pés acordar um criado.

— Arranja-me um banho morno quanto antes! gritou — e vê se descobres por aí alguma roupa, aquilo lá por cima está ainda tudo fechado! Olha! vê também se me dás café e algumas bolachinhas; estou a cair de fraqueza! O criado, tonto de sono, porque o baile havia acabado pouco antes, ergueu-se a roncar, resmungando, muito intrigado por ver o amo já tão cedo às voltas com ele e, o que era mais ainda com a roupa da véspera e a dar ordens com uma tal impertinência que não parecia o mesmo.

Já vai! Já vai! respondeu, ouvindo novas reclamações do Borges. E pôs-se em movimento, a parafusar no que diabo teria sucedido ao amo, para andar tão cedo à procura de banhos mornos, de roupas e cafés com bolachinhas! — Aquilo foi grande espalhafato lá por cima! resolveu ele, tratando de executar as ordens. Ora, queira Deus que este casamento ainda não lhe venha a dar na cabeça!... Eu nunca achei grande coisa a tal senhora D. Filomena! Pode ser que me engane... mas aquela boneca de engonços há de dar água pela barba do patrão!

Daí a pouco o Borges, já restaurado, metido numa fatiota de brim branco, a barbinha feita, o seu farto cabelo bem penteado, lia o Jornal do Comércio, no salão do segundo andar, à espera de que a mulher se levantasse.

Quando Filomena, às dez horas da manhã, saiu do quarto para o salão, encontrou-o repimpado na cadeira de balanço, dormindo de papo para o ar, a boca aberta, a barriga espipando por dentro do colete e do rodaque de brim, os braços soltos, e numa das mãos o jornal.

Schocking! exclamou ela, arrevesando um olhar de nojo.

O marido bocejou, despertado por aquela exclamação. E, ao dar com a mulher, endireitou-se atrapalhadamente, contendo os bocejos, as carnes a tremerem-lhe e os olhos sumidos na rápida congestão do estremunhamento.

Ela vinha formosa a mais não ser. O sono completo dera-lhe às feições a olímpica serenidade das Vênus antigas. Trazia a rastros um longo penteador de linho bordado; o cabelo preso ao alto da cabeça, como dantes, mas agora enriquecido, à moda japonesa, por um gancho encastoado de pedras preciosas. Em volta do mármore sem brilho de seu pescoço, reluziam pérolas e toda ela respirava um cheiro bom de saúde e de asseio.

— Como passou? disse, aproximando-se do marido e estendendo-lhe a mão.

Borges adiantou-se cerimoniosamente para cumprimentá-la. Um acanhamento espesso tolheu-o dos pés à cabeça. Quis responder e apenas gaguejou algumas palavras sem sentido. Naquele instante lhe passava pela idéia o receio de que a mulher desconfiasse do ressentimento, que porventura nele tivesse produzido o fato da véspera. — Como chegara a imaginar, pensou num relance — que aquela mulher, tão delicada e tão altiva, consentisse em recebê-lo ao seu lado, na sua cama, logo na primeira noite do casamento! — Onde tinha ele a cabeça para esperar semelhante coisa?!

Filomena, como se adivinhasse o pensamento do marido, expediu-lhe generosamente um sorriso de indulgência e disse-lhe, devagar, enfiando o seu braço no dele:

— O senhor seria muito amável se quisesse fazer-me companhia ao almoço...

E vendo um gesto de surpresa no Borges. — Isto significa que desejo almoçar aqui, no segundo andar, sozinha com o senhor, sem a presença de estranhos, nem mesmo a dos criados — um verdadeiro tête-à-tête... não acha boa a idéia?

— Oh!... se acho!... Eu não ousava ambicionar tanto!... Sim, quero dizer..., eu...

— Pois então tenha a bondade de dar as providências para isso. Quanto às nossas visitas de hoje — só me pilharão ao jantar.

E no fim de uma pausa, tocando-lhe no ombro:

— Então! Vá!! Mexa-se!

O Borges, encolheu a cabeça e precipitou-se de carreira para o primeiro andar.

Só se tornaram a ver à mesa do almoço.

— É bom que esteja tudo à mão para não termos de chamar pelos criados, observou ela, acomodando-se na sua cadeira, defronte uma pilha de ostras cruas.

E desdobrando o guardanapo sobre o peito:

— É uma providência dispormos deste segundo andar; fica-se aqui perfeitamente à vontade. É tão desagradável mostrar-se a gente a visitas logo pela manhã, depois de um casamento!

O Borges sorriu. — É desagradável... é! disse ele corando levemente.

— É brutal! emendou Filomena, passando o copo de vidro verde, para que o marido lhe servisse o sauterne que tinha ao lado.

E depois de beber:

— Não compreendo como ainda se conservam na sociedade moderna certos costumes verdadeiramente bárbaros. As cerimônias do casamento estão nesse caso. Nada há mais grotesco, mais ridículo, do que essa espécie de festim pagão em que se celebra o sacrifício de uma virgem. Horroriza-me, faz-me nojo, toda essa formalidade que usamos no casamento — a exposição do leito nupcial, os clássicos conselhos da madrinha, o ato formalista de despir a noiva, e, no dia seguinte, os comentários, as costumadas pilhérias dos parentes e dos amigos... Oh! é indecente! Mas agora reparo; o senhor não come!...

De fato, enquanto Filomena falava, o marido era todo olhos sobre ela, não se fartava de contemplar aquele adorável busto que tinha defronte de si. Causavam-lhe estranhos arrepios o modo desembaraçado, a graça natural, com que a mulher prendia uma ostra na pontinha dos dedos cor de rosa para levá-la à boca, numa riqueza de braços arremangados, onde tilintavam dois porte-bonheurs de metal branco.

— Ao menos beba! replicou ela, vendo que o Borges não se resolvia a comer.

E encheu-lhe o copo.

O pobre homem teve acanhamento de confessar que nunca em toda a sua vida, bebera o mais pequeno trago de vinho.

— Então... fez a mulher. — Vamos! E tocando o seu copo no dele: — Ao nosso casamento!

Borges emborcou o seu de um fôlego com uma careta.

Filomena não se pôde conter, e soltou uma dessas risadas retumbantes, que chegam para encher toda uma casa. Aquele ar esquerdo do mestre de obras, engasgado, roxo de tosse, fazia-lhe cócegas pelo corpo inteiro. E ela ria, ria, ria, sem se dominar, cobrindo o rosto com as mãos, torcendo-se como uma cobra, enquanto o Borges, muito enfiado, procurava posições na cadeira, ardendo por sair daquela situação que o torturava.

— Coma sempre alguma coisa! disse-lhe por fim a esposa, fazendo inúteis esforços para reprimir a hilaridade — olhe que não é cedo!... uma hora, creio eu.

— Obrigado! Não tenho apetite... respondeu ele, cada vez mais confuso, a limpar o suor que já lhe sobrevinha ao rosto.

Ela continuava a rir.

— Há de ser porque passei mal a noite... acrescentou o Borges. Não preguei olho!... Isto para quem nunca saiu de seus hábitos...

— Mas, meu amigo, acudiu Filomena, solicitamente, tornando-se séria — para que faz o senhor loucuras dessa ordem? Isso pode causar-lhe mal! Lembre-se de que já não tem vinte anos, e a sua saúde, na sua idade, é coisa muito preciosa!

O Borges desta vez perdeu de todo o bom humor. Ou fosse por efeito do vinho, que ele bebia pela primeira vez, ou fosse que as palavras da mulher o irritassem deveras, o caso é que fechou o rosto e respondeu quase com azedume:

— Eu não perdi a noite pelo gostinho de a passar em claro! Não foi minha a culpa!..

— De quem foi, nesse caso?..., indagou Filomena, já com o riso a espiar pelos cantos da boca.

— Ora, minha senhora!...

— Quer dizer que foi minha?!

— A senhora bem o sabe...

— Perdão, meu amigo, convém que nos entendamos! O senhor terá bastante bom senso para compreender o que lhe digo: ouça..

— Tenho até para mais... aparteou o Borges, encavacado. — Tenho para compreender o papel ridículo que a senhora quer me fazer representar!...

— Ridículo? Por quê?!

— Por quê?! Porque eu não tinha a menor necessidade de passar a noite no sofá e ainda por cima servir de galhofa! Ora aí tem porque!

— Mas que queria o senhor que eu lhe fizesse?!... .

— Ora, minha senhora! Por amor de Deus!

Pois acha que devo ter plena confiança em um homem que mal conheço?! Um homem que eu não sei se me ama, ou que, pelo menos ainda não me deu provas disso?!...

— Não dei provas!!! exclamou Borges ofendendo-se. — Não dei provas!... Homessa!..., Quer então uma prova superior ao casamento... Então o fato de me fazer seu esposo, não vale nada?!

— Vale tanto como o de fazer-me eu sua esposa. Foi uma permuta, uma troca. E por ora é só o que há — estamos quites — nem o senhor por enquanto tem direitos adquiridos, nem eu!! Salvo se entende que o noivo vale muito mais que a noiva!...

— Eu não entendo nada! respondeu ele, triste; — sei apenas que me casei com a senhora porque a estimo muito...

E abaixando a voz, ainda com mais amargura:

— A senhora, sim! é que nunca me teve afeição, e princípio a duvidar que isso venha a suceder algum dia...

— Depende unicamente do senhor, meu amigo!..., retrucou Filomena.

Agora parecia comovida. Estava muito séria; o olhar ferrado no prato.

Houve um silêncio. Ela, afinal, continuou a falar, imóvel, sem descravar os olhos donde estavam, e a bater compassos na mesa com a faca.

— O coração de uma mulher nas minhas condições, disse, medindo as palavras e recitando, como se tivesse os períodos decorados — .não é coisa que se conquiste assim com um simples casamento: não haveria nada melhor! O senhor, se quer ter a minha confiança plena, a minha dedicação, a minha ternura, faça por merecê-las... Não será de certo com esses modos e com essa cara fechada, que conseguirá abrir-me o coração! Eu, até, se soubesse que o senhor havia de se portar desta forma, não o teria convidado para almoçar em minha companhia... O senhor fala de farto!... Em vez de agradecer à sua boa estrela a bela ocasião que lhe faculto para principiar a conquistar-me, põe-se nesse estado e parece disposto a incompatibilizar-se comigo por uma vez!

Borges ouviu tudo isso, vergado na cadeira, sem um movimento, os olhos corridos, o rosto anuviado por uma funda expressão de mágoa resignada. Quando a mulher terminou, ele estendeu-lhe um olhar de súplica e tentou agarrar-lhe as pontas dos dedos.

Filomena retirou a mão com um movimento rápido, e voltou-se para o outro lado, dando as costas ao marido. Este arrastou-se com a cadeira para junto da esposa, e, em segredo, a voz medrosa e submissa, perguntou-lhe o que então queria que lhe fizesse?...

— Tudo! respondeu Filomena na mesma posição, a sacudir uma perna, que havia dobrado sobre a outra.

— Mas tudo, como?... perguntou Borges, tentando acarinhá-la.

Ela ergueu-se, demovendo o corpo, e acrescentou, encarando-o:

— Ouça! — Por ora, meu amigo, pertenço-lhe de direito, porque nos casamos, e isso tornava-se inevitável na situação em que o senhor me achou; mas declaro-lhe abertamente que só lhe pertencerei de fato no dia em que o senhor tiver conquistado o meu amor à custa de dedicação e de perseverança! Só lhe pertencerei de fato no dia em que o senhor se houver cabalmente habilitado para isso! Compreende agora?...

O marido deixou cair a cabeça e ficou a pensar, enquanto a mulher atravessava o gabinete, depois a saleta, e fora assentar-se no divã do salão. No fim de cinco minutos, Borges levantou-se resolutamente e foi ter com ela:

— De sorte que a senhora tenciona continuar com a porta do seu quarto fechada, até que eu...

— A porta e o coração, acudiu Filomena — até que o senhor os consiga abrir com os seus desvelos!

— Quer então que lhe faça a corte?...

— Decerto.

— Pois tomo a liberdade de declarar a V. Exª que foi justamente por não ter jeito para essas coisas que me casei! Se eu tivesse gênio para atirar-me aos pés de uma mulher e fazer-lhe a minha declaração com palavreados de romance, se eu tivesse queda para falante, não procuraria uma esposa, bastava-me ter uma...

Filomena não lhe deu tempo de concluir a frase. Ergueu-se num só movimento, e, depois de medi-lo de alto a baixo com um olhar de rainha ofendida, afastou-se lentamente em silêncio, os passos firmes, a cabeça altiva.

Borges correu logo atrás dela e segurou-lhe uma das mãos.

— Solte-me! exclamou Filomena, arrecadando o braço.

E fugiu para a saleta, atirou-se sobre o divã em que o marido passara a noite, e aí rompeu a soluçar com um frenesi histérico.

Borges ajoelhou-se-lhe aos pés e cobriu-lhe as mãos de beijos e de lágrimas.

— Não leves a mal aquilo, minha santa! Desculpa, exclamou ele, escondendo o rosto no colo da esposa. — Reconheço que não fui muito delicado — excedi-me, mas não sei onde tenho a cabeça — não estou em mim! É que me pões doido com tuas palavras! Oh! mas não fiques zangada, não chores; tudo aquilo prova justamente o bem que eu te quero, minha vida, minha mulherzinha do coração!

Filomena não respondia e continuava a chorar, toda prostrada no divã: a cabeça vergada para trás, o rosto encoberto por um lenço de rendas, que ela segurava em uma das mãos, ao passo que abandonava a outra aos beijos apaixonados do marido. Agora os soluços eram espaçados e mais secos, como os últimos rumores de uma tempestade que acalma.

De repente ergueu-se. Fitou por instantes o marido, que jazia a seus pés ajoelhado, a encará-la lacrimoso e súplice; depois estendeu os braços, deu-lhe um empurrão e fugiu para o seu quarto, fechando-se logo por dentro, violentamente.

O Borges ficou meio assentado e meio deitado no chão, amparando-se às mãos e aos pés.

— E esta — balbuciou ele daí a pouco, erguendo-se de mau humor. — É gira ou não é gira?...

E pôs-se a percorrer todo o pavimento, rondando o quarto fechado da mulher, como um gato que fareja o guarda-petiscos... No fim de uma hora de exercício, indo e revindo incessantemente, de lá para cá, as mãos nas algibeiras das calças, o olhar cravado na esteirinha do soalho, Borges estacou no meio do salão:

— É demais! pensou ele. — É para um homem perder a cabeça!

E atirou-se prostrado à cadeira de balanço, passando uma revista mental a todas as contrariedades e decepções que o afligiam desde a véspera.

— Ora aí estava para que se tinha casado!... Passar por tudo aquilo... Ele! Ele, que em sua longa vida de solteiro nunca amargara uma noite tão má e um dia tão levado da breca! — Quem te mandou, João Borges, meter-te em camisas de onze varas?... Maldito fosse o Guterres, que o levou à casa da defunta Clementina! Antes tivessem ambos quebrado as pernas nessa ocasião! Maldito Guterres!

E, acabrunhado por esses raciocínios, sentindo perfeitamente que não tinha forças para arrancar de si a paixão enorme que lhe inspirava a esposa, levantou-se de novo, foi e veio por todo o segundo andar, suspirando e tossindo todas as vezes que passava defronte da porta de Filomena. Afinal, no fim de outra hora de passeio, convencido de que a mulher não aparecia, desceu ao primeiro pavimento.

Os amigos já lá estavam para o jantar. Guterres foi o primeiro que correu ao seu encontro, abrindo-lhe os braços.

E, discretamente, enquanto o estreitava:

— Você está abatido, seu maganão!

Borges sorriu, protestando vagamente:

— Uma enxaqueca!... Uma pequena enxaqueca!...

— E sua senhora?..., perguntou um dos amigos.

— Vem já, vem já... Ela, também, coitadinha!..., não passou lá para que digamos!...

— Outra enxaqueca?...

— Naturalmente! Considerou um terceiro a rir.

— Ah! estes noivos! estes noivos!... volveu o Guterres a bater no ombro do Borges. — Não precisa fazer-se vermelho, que diabo! Já sei o que isso é, meu amigo, já passei duas vezes por esses transes!...

O Borges teve um novo sorriso, ainda mais amarelo que o primeiro, e foi continuando a receber os parabéns dos outros convidados, cujas pilhérias, cujas pequenas frases de sentido dúbio e malicioso, ditas aliás com a intenção de lisonjeá-lo, mais e mais o indispunham e frenesiavam.