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Galeria dos Brasileiros Ilustres/Gabriel José Rodrigues dos Santos

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Não começarei como quase todos os biógrafos, recordando os pais, a família, e a adolescência dos grandes caracteres, não; os laços de ascendência ou descendência deixam inexplicável o talento, a virtude e a glória. A mortalha não cobre senão os esqueletos, e o ouro do mundo, e as tradições de família empanam-se e se esquecem nas orlas frias da sepultura. Se o triunfo de nossos antepassados nos orgulha, e faz bater quase quente o sangue do coração — nem por isso nos ilustra, nem glorifica. Ah! Quantos infelizes tenho eu visto lutar contra as maldições do mundo, que lembrando as glórias dos pais se irritam de contemplar o filho; quantas vezes a severa história nos ensina a desdenhar o descendente pela saudade do ascendente! Uma vida triunfante se revela por si mesma, se traduz em seus atos, e se eterniza pelas próprias virtudes. Esses que tentam aviventar todos os dias as desbotadas saudades dos mausoléus são quais os cômicos que envergam as togas do gênio, e enlaçam as frontes de alheias grinaldas, para entreter a multidão, que em falta de grandes vivos, quer recordar os grandes mortos. A luz do sol não se empresta sem que lhe falte vida e esplendor. O renome do pai é uma relíquia, uma lembrança, um luzeiro, se quiserem para o filho que o deve fitar sempre nesta peregrinação tempestuosa da vida, porém não se herda, nem se personaliza com ninguém por qualquer título. A história de um pai é uma luz que se vê sempre acesa, e que queima o coração de um moço; é uma estrela no meio da procela, uma sonda em meio do rochedo! O povo adota também os filhos de seus heróis, porém quanto mais notável foi a vida de um cidadão, mais se exige de seu herdeiro. Túnica de Djanira — é esta do sangue — não se a despe sem morrer em dores, e só se veste pela vontade do destino, ou fatalidade —não sei.

No entretanto a superstição, o espírito do povo — quantas vezes quer tornar uns responsáveis pelos outros, em virtude do nascimento e do nome!

Não — sigamos novo caminho — demos à vida sua independência, à glória seus heróis, à virtude seus prosélitos. Nos altares da pátria ninguém se sagra sem poderosos esforços, e batalhas tremendas. Ninguém pergunte porque a inteligência ergue altiva a fronte, porque a força domina a fraqueza — e por que o espírito conquista a matéria?

Deus responde todas as horas aos cépticos. O homem em sua origem — é a imagem, ou a personificação do poder espiritual na Terra. —A natureza é a mãe comum, e igual — que repartiu por todos as mesmas capacidades. A vida é uma grande peleja — uns falecem ao entrar na arena, ou se misturam na poeira do combatente; são esquecidos como o pirilampo, que vive um instante, para morrer eternamente; outros abusam das forças naturais, batem-se uma vida inteira, sem obter um triunfo, e morrem sem uma glória — são os maus que o mundo entrega aos corvos que os dilaceram. Nem uma lágrima, nem uma flor, nem um suspiro para eles, senão dos parentes que pensam respeitar a virtude, e cumprir um dever sagrado — chorando o mirrado esqueleto da perversidade — e alguns passam incólumes na batalha da vida — sem ferirem, nem serem feridos; são como as águias que conjuram a tempestade, e se envolvem nas tormentas!

O povo deste século não se deixa seduzir pelas misteriosas e bombásticas frases de heráldicos pergaminhos. Não se deve confundir a corrupção individual, o egoísmo de classe, e o orgulho de família, que se remorde e agita nas ânsias do desespero, no rancor do ciúme, e nos aloucados ímpetos de mal-entendida rivalidade — com as largas aspirações do povo — cuja vida é impessoal, e cujas idéias são sempre nobres e verdadeiras. Não se vê ali por entre várzeas correr o córrego constrangido e retorcido pelas pedrinhas de seu leito — é o homem, ou sua imagem nesta vida; — não se vê acolá — o mar soberbo, que avassala dois terços do nosso planeta, e senhor, e sem contestação, estende seus braços sobre as praias, e contra elas luta sempre com renascido esforço — sem cansar um momento — é o povo, ou a sua imagem nesta vida.

A inteligência tem partido um por um todos os elos da longa e fatídica cadeia aristocrática. Cromwell fez-se ditador — Napoleão imperador, — um dominou a Inglaterra — o outro o mundo — um desdenhou o diadema e o trono, e outro distribuiu-os com pulso de soldado e mão de gênio por entre seus generais.

Para a inteligência não há colunas de Hércules — em um instante ela percorre todo o mundo, recorda o passado, aviventa o presente, e concebe o futuro — ergue as lousas, e se envolve no turbilhão de poeira do que se sumiu — lembra — alenta os vivos, e com eles se bate em campo aberto — atua — rasga os nevoeiros do porvir — escreve seu testamento — raciocina.

O grito de Independência ou Morte, que agitou o límpido espaço dos campos do Ipiranga, acendeu o entusiasmo dos valentes paulistas de 1822, e como um belo hino encantou a juventude da pátria. Os elos da cadeia colonial quebraram-se aos olhos desses meninos, que mal poderiam compreender os compromissos patrióticos que deste brilhante feito nasceriam. O pendão português rasgado na hora da liberdade devia ser substituído por um outro, que eterno fosse, saudado pelos povos, respeitado de todos, e admirado pelos séculos futuros. Os cavalheiros da Independência, os grandes estadistas brasileiros, tudo haviam feito com a Independência. A organização social e política tinha de ser o gigantesco trabalho dessa juventude, que por assim dizer havia inspirado a liberdade ao nascer, que com ela despertara, e com ela deveria crescer. A Independência tinha sido uma solene aclamação; a organização do Império uma terrível luta sim, mas gloriosa. O entusiasmo santo da Independência vinculou todos os corações, e identificou todas as vontades; mas esta febre quase divina passou, e entrou-se na arena dos interesses contraditos, e dos princípios opostos.

O regime do poder singular, se batido estava em suas primitivas e rudes expressões, nem por isso desamparou o campo da batalha. Vestiu-se com estranhas roupas, tomou novos emblemas, e alçou bandeira nova, ocultando porém no fundo da consciência a reservada intenção de conferir ao povo apenas a irrecusável partícula de liberdade, com susto de que se envenenasse se porventura saboreasse toda a que tinha incontestável direito. Era a autoridade com todas as suas pretensões e forças, encobrindo, sob o pretexto de ordem, o desejo de arbítrio.

Porém a Independência havia exaltado por demais o ânimo da mocidade para que ela se contentasse com um tal simulacro.

Começa a luta. O parlamentar é a arena e a espada, a palavra. Que belas batalhas, que guerreiros, e que eloqüência foi a daquele período!

Ninguém triunfou, porque não era tempo de vencer, mas de lutar sem desesperar um dia, nem recuar um instante. A escola clássica da autoridade divina, ainda que se pensasse moribunda, quiçá dissolvida pelo grande ato de 25 de março de 1824; o tempo, este primeiro poder dos engenhos humanos, havia-lhe imprimido tal vida, e tão duradoura havia sido que suas raízes se afundaram nos espíritos daquela geração já decadente sim, porém, sempre respeitável pelos seus talentos, idade e prestígio social. O direito divino desapareceu das tábuas constitucionais, porém o princípio de autoridade e ordem disfarçou-se, para amparar o velho sistema já modificado pelo bom senso.

A escola da liberdade constitucional, do governo do homem pelo homem, sem privilégios ofensivos e inúteis, sem exploração do rico sobre o pobre, veio com toda a mocidade do tempo colocar-se adiante daquela como uma barreira e um protesto.

É a época da resistência liberal do Primeiro Reinado. Figuram na cena política os mais avantajados talentos do Brasil — Vasconcelos —Honório — Evaristo. São os primeiros lidadores naquele tempo.

A abdicação em 1831 mudou completamente a cena política. A liberdade constitucional triunfa, mas eu creio que foi por cedo que esse triunfo não produziu o bem que devera. Entretanto, o princípio liberal se reforça pelo poder e tenta consagrar-se nas instituições; e parece incrível, o resultado foi muito inferior aos poderes de que dispunha então o Partido Liberal; as reformas, por precipitadas, tornaram-se na vida prática difíceis de execução, o governo tinha a vontade, porém faltava-lhe a força. O pensamento ficou no espaço da intelectualidade.

O período regencial é uma cadeia de ameaças burladas pela impotência do governo, e divisão dos partidos, que se repartem em grupos de aspirações extraordinárias, porém, pobres de ação. Salvaram a monarquia e a integridade do Império.

A Academia de S. Paulo conferiu nestes tempos os primeiros graus de formaturas em Direito. Começa portanto a independência literária a dar seus primeiros e robustos rebentões. Então a academia de S. Paulo era por assim dizer uma escola de girondinos, encorajada pelas circunstâncias especiais que se refletiam sobre o governo do Império. As palestras, os clubes, as maçonarias e todas as sociedades eram labaredas que requeimavam aqueles nossos primeiros estudantes de Direito. A agitação estava no país pela abdicação, e pelas idéias que animavam e conservavam, nos livros que então serviam de roteiros em direito social naquela Academia. O impulso liberal de tudo triunfou, menos do direito existente e consagrado pelos séculos. Parece que houve patriotas, mas faltaram jurisconsultos, que teriam de aparecer com brilho e verdadeiro sucesso, educados em nossas academais. O corpo acadêmico era forte em número, ardente de patriotismo, e reunia em si filhos de todas as províncias do Império, que a vontade de conquista científica havia atraído à capital da província de S. Paulo. Nas vésperas da abdicação a cidade de S. Paulo era uma fornalha ardente, em que as paixões políticas se incandesciam ao sopro do fogo da mocidade talentosa. O recinto da Academia mais de uma vez foi invadido pela turba entusiasta dos estudantes, que, convocados em assembléia política e deliberante, ofereciam à liberdade seus mais precisos bens, e muito alto faziam ouvir seus protestos de liberdade, que o tempo veio modificar a respeito de uns, e condenar a outros como perjuros. Nos dias subseqüentes à abdicação a cidade de S. Paulo foi um verdadeiro altar da liberdade. Entoaram-se todos os hinos liberais, e correu-se a largo pano pelo mar imenso das paixões políticas. Mas toda esta festa era nobre, generosa, sincera, porque a mocidade, além de incorruptível, é sem cálculo.

Nestas primeiras convulsões políticas, nestas primeiras multidões de liberais, decididos a resistir à opressão — já se começavam a ver os primeiros traços do caráter e talentos extraordinários do homem que a morte tão cedo arrebatou dos primeiros postos do Partido Liberal.

O Dr. Gabriel José Rodrigues dos Santos foi um fiel e elo-qüente pugnador da escola liberal. A sua virilidade deve-se considerar como a sagração de sua juventude. Entrou na vida pública como liberal, e desceu à tumba com o mesmo pensamento confirmado e en-robustecido pela experiência e provações. É um traço este que bem caracteriza aquele notável caráter político, tanto mais apreciável, quanto é certo que difícil é a constância em um país ainda não constituído, e con-seguintemente de reiteradas vacilações nas causas e nos homens.

Curta e bem curta foi sua peregrinação na Terra; porém, nem assim faltam vivos vestígios de sua passagem, principalmente na província de S. Paulo, para cuja prosperidade concorreu tanto como outro qualquer de seus mais abençoados filhos.

Em novembro de 1836, com 20 anos de idade, recebeu o grau de bacharel em Direito. Em 1838 defendeu teses, e obteve o grau de Doutor, a fim de concorrer a uma cadeira vaga na faculdade; porém o governo imperial anulou o mesmo concurso, e nunca mais o Dr. Gabriel voltou às pelejas acadêmicas, nas quais alcançou os mais assinalados triunfos, e bem merecidos louvores.

Logo depois de formado foi nomeado promotor público da capital; emprego que abandonou por delicados escrúpulos de sua bela alma. Exerceu igualmente com honra e inteligência superior o lugar de juiz de direito da capital.

Em 1840, ainda no verdor dos anos, foi eleito deputado provincial por S. Paulo e tomou assento depois de longas disputas naquela assembléia, que, a pretexto de lhe faltar a idade legal, tentava recusar-lhe a cadeira de legislador, que o povo lhe havia concedido. O motivo do ostracismo parlamentar a que seus adversários o queriam votar é uma de suas glórias.

A voz da justiça se fez ouvir, e os direitos do talento e do povo foram, como cumpria, respeitados. O Dr. Gabriel entrou na as-sembléia provincial.

A nomeação imperial para presidente de S. Paulo recaindo sobre a pessoa do distinto e sempre chorado paulista Tobias de Aguiar trouxe também a nomeação do Dr. Gabriel para seu secretário. Neste posto prestou relevantes serviços à sua província.

Desde aquela memorável época até a infausta de sua morte, teve sempre, salvo poucos intervalos, assento na assembléia provincial. Embora o exclusivismo dos partidos empregasse todos os meios para excluir seu nome, tão conhecido e ilustrado, das urnas eleitorais, o seu prestígio mais de uma vez triunfou destes injustos ódios e caprichosas exclusões, senão mesmo criminosas.

Em 1844 foi eleito deputado à Assembléia Geral, e o Brasil inteiro sabe quão honrosamente desempenhou este mandato do povo, resistindo à força em nome da lei, aos poderosos em nome dos abatidos, e à tirania em nome da liberdade.

Em 1848 foi reeleito. Dissolvida porém a Assembléia Geral naquela nefasta época, não voltou ao corpo legislativo na sessão que se seguiu, porquanto o país apresentava a feição triste da divisão entre vencidos e vencedores. Resistiu pela imprensa com artigos constantes pautados pela prudência, e animados pela convicção. Nesta arena era um lidador temível, contra o qual era possível e fácil a luta, porém não o triunfo.

O prelo da folha Ipiranga trouxe a lume por muitos e inteiros anos seus vigorosos artigos, em que a beleza da dicção, o fogo do patriotismo e o sentimento do liberalismo tinham suas mais belas e eloqüen-tes expressões. Ele sabia unir os descontentes, aplacar os ressentimentos dos amigos, animar os fracos, e conter os impetuosos, que levaram seus sentimentos à última escala de exageração, de modo a parecerem-se imprudentes, ou desesperados.

Sua saúde se foi consumindo como uma luz. Os poderosos e graves interesses de um partido inteiro, a que estava unido de alma e coração, não lhe concediam tempo para refazer-se de forças.

Lutador que morreu na luta, e que jamais viveu para si. O seu grande porvir foi uma nuvem dourada, que o furacão da morte dissipou; e hoje resta a memória de sua alma, e o túmulo que encerra o seu esqueleto!

Era o Dr. Gabriel José Rodrigues dos Santos um consumado orador, de palavra bela e fluente, de variados conhecimentos, e de tão feliz expressão e gesto, que realmente seduzia e arrastava.

Recusou em 1848 a presidência da província de Pernambuco e, em 1857, a do Rio Grande do Sul, não por se esquivar dos serviços que como bom e leal cidadão devia à pátria, mas por sentimento filial, que o possuía tão fino e delicado, quanto mais que era ele o centro de sua numerosa família, que o adorava.

Nunca esteve na alta administração, pelo que não se ofereceu oportunidade de firmar créditos de espírito prático; porém, a regular-se as grandes empresas pelas pequenas, deveria ter sido um distinto administrador. Eleito pelo povo da capital da província de S. Paulo vereador da Câmara Municipal, mostrou-se zeloso, ativo, e fez importantes serviços àquele município.

Acompanhou seus amigos com fidelidade e coragem na desgraçada revolução de 1842; sofreu o destino reservado aos vencidos, apresentou-se ao tribunal do povo para ser julgado, e foi absolvido, porque o povo não sabe condenar a consciência pura e o mártir da liberdade, que ainda que iludido estivesse, ou exagerado fosse, não lhe passava pelo espírito senão o pensamento de vingar a lei fundamental ofendida.

Foi seu defensor o Dr. João Crispiniano Soares, verdadeiro amigo. O sábio jurisconsulto brasileiro advogou a causa da lei, da Pátria e da inocência na pessoa do distinto paulista Dr. Gabriel José Rodrigues dos Santos, que um alvará de soltura restituiu à sociedade e aos amigos. Em 1854 foi nomeado pelo governo imperial lente da Academia Jurídica de São Paulo; o filho ilustre daquela faculdade envergou a veste do apostolado científico, e ensinou com proveito para a mocidade, para o país e para as letras jurídicas.

Em 1856 foi eleito deputado geral pelo círculo do Rio Claro, em sua província. A compressão dos vencedores tinha cessado, o país entrava em confraternização, seu nome não podia ser excluído das urnas eleitorais.

Em 1857 foi igualmente eleito deputado provincial por dois círculos eleitorais, o de Taubaté e Rio Claro. Parece que o povo, descobrindo nos nevoeiros de um próximo futuro seu túmulo, se tornava solícito em lhe dar as mais solenes provas de confiança, dedicação e reconhecimento no derradeiro adeus pronunciado entre as aclamações da vitória eleitoral e uma sepultura.

Em 1858 a assembléia provincial o nomeou seu presidente. Os representantes da província estavam também animados dos sentimentos de que o povo dera espontâneas e sinceras expressões.

Aos 23 de maio de 1858 o imortal paulista restituiu ao Criador sua alma — vítima de um ataque apoplético. Seu crânio era acanhado para conter sua inteligência!

Nascido a 1º de abril de 1816, a Providência só lhe concedeu 42 anos de vida, de trabalho e dedicação por sua terra e pelo Imperador.

O luto cobriu a cidade e a província de S. Paulo! Bem pouco sobreviveu a seu amigo e correligionário Rafael Tobias de Aguiar que ele acompanhou na desgraça e na ventura.

Foram duas perdas irreparáveis. As cinzas do Dr. Gabriel José Rodrigues dos Santos descansam na santa terra da igreja da Ordem Terceira do Carmo da cidade de S. Paulo. Fechou os olhos na mesma terra em que os abrira; assim não acontecera ao ilustre paulista Rafael Tobias de Aguiar.

O destino, se não é caprichoso, é certo que se não explica —resignamo-nos à vontade daquele que é senhor do mundo!

Se os princípios liberais não fossem os dogmas do culto político da geração atual, se a liberdade deixasse de ser a honra do indivíduo homem, e o poderoso elemento que anima e engrandece as nações de hoje; se no Império do Brasil a multidão não amasse nossa livre Constituição — seria para afrouxar aos mais crentes a cruel fatalidade que pesa sobre o partido liberal em que a morte escolhe seus mais enérgicos e dedicados propugnadores.

Temos perdido em pouco tempo as mais belas esperanças e os mais sólidos prestígios. Desde os fundadores da Independência até o Dr. Gabriel José Rodrigues dos Santos, se têm finado com saudades para todos os brasileiros — os nossos muito conspícuos políticos e estadistas.

A França, a Inglaterra e a Alemanha vêem seus homens de Estado crescerem em glória e idade — até tocarem a uma velhice a todos os respeitos veneranda. Dupont de l’Eure assistiu a quatro revoluções. Lafaiete dirigiu os batalhões do povo em 1789 e, ainda em 1830, com uma palavra deu uma coroa. O gabinete de S. James e o Parlamento inglês têm ufania de oferecer ao mundo político o belo espetáculo do governo do século atual pelos homens do século passado!

Entre nós não se vêem estes homens, que a idade abatendo o corpo entretanto fortifica o espírito. Nossos talentos como que morrem na madrugada da vida. Apenas começam a constituir sua influência, como principal elemento para a conquista do poder, a morte os arrebata!

Não se deve comparar a luta política na Inglaterra com a do Brasil; ali quatro gerações trabalham, levando cada uma sua pedra, a fim de estabelecerem um dia a independência de um de seus descendentes; cá, um só homem afronta todas as provações, sofre todas as vicissitudes, e em sua rápida carreira cura de fazer sua fortuna, e firmar seu crédito político.