Galeria dos Brasileiros Ilustres/Inácio Marcondes de Oliveira Cabral

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Inácio Marcondes de Oliveira Cabral, filho legítimo do capitão-mor Inácio Marcondes do Amaral, e da Sra. D. Ana Joaquina de Oliveira Marcondes, nasceu na vila de Pindamonhangaba a 7 de dezembro de 1783. Desde que atingiu a idade de poder aplicar-se aos primeiros estudos, deixou a casa paterna, e retirou-se para a cidade de Taubaté, onde deu princípio à sua educação literária, a qual teve de concluir na cidade de São Paulo, freqüentando as escolas que ali existiam, e instruindo-se nas matérias que então se ensinavam.

A rígida e severa educação, que os antigos paulistas sabiam dar a seus filhos, e que garbosamente ostentavam na vida particular e pública, tornou o sr. Inácio Marcondes inflexível em seu caráter e austero em seus costumes desde a mais tenra idade. Sempre zeloso de seus sentimentos de honra e dignidade, efeitos da educação que recebera, contudo soube conquistar o respeito e a simpatia de seus colegas, ao lado da mais pura estima e confiança de seus professores. Inclinando-se logo nos primeiros anos de seus estudos à carreira sacerdotal, dedicou-se ao conhecimento das matérias próprias; e por isso, depois de estudar latim, filosofia racional e moral, retórica e teologia, obedeceu à sua vocação, e satisfez o desiderato de seus pais, realizando a sua ordenação de presbítero, e retirando-se para a companhia destes no seu lugar natal, onde estabeleceu permanentemente sua residência.

Iniciando a vida pública ladeado do prestígio e legítima influência, que seu pai sempre mereceu na sua província natal; revestido ele próprio das qualidades que tornam o cidadão recomendável e inspiram a mais firme confiança aos seus conterrâneos, cedo recebeu provas não equívocas do alto grau de respeito e veneração que seus comprovin-cianos lhe tributam em homenagem aos elevados sentimentos que o distinguem.

A província de São Paulo que, em outras eras, justo título de celebridade e de orgulho havia adquirido entre suas irmãs pelo rigoroso escrúpulo, que guardava na escolha de seus representantes, nem uma só vez deixou de conceder nos Conselhos Gerais, e depois na Assembléia Legislativa Provincial, uma cadeira ao sr. Inácio Marcondes, ao lado dos imortais Andradas, Feijós, Paulas Sousas e Álvares Machados. — Nesses tempos, em que o patriotismo e o entusiasmo tinham verdadeiro fervor no peito dos paulistas; em que a abnegação era considerada como um dever sagrado, como uma religião santa, de cujas máximas não era permitido afastar uma só linha, sob pena de ser tido por um réprobo da pátria; aí, nesse recinto, onde se reuniam os cidadãos mais conspícuos, e as primeiras ilustrações do país, os sentimentos de devotamento pela pátria tomavam de dia em dia novo impulso, as crenças do coração se robusteciam, e formavam essas fileiras compactas e cerradas, que tinham por motivo de ação o amor do país, e por norma de conduta seu engrandecimento, o respeito às instituições e o florescimento da província.

Sob a benéfica influência dessas inspirações santas, filhas da liberdade, enunciadas e transmitidas por órgãos eloqüentes, e por campeões distintos, o sr. Inácio Marcondes consolidou suas crenças, deu o último traço em sua fisionomia política, e adquiriu essa prudência e longanimidade, que constituem um caráter verdadeiramente superior. Munido de arma tão poderosa, não poucas vezes, nessas épocas vertiginosas, em que nas localidades, longe das vistas imediatas do governo, e da ação direta das autoridades superiores, o espírito de partido encande-cido, e as paixões políticas violentamente exacerbadas, entregues aos seus próprios impulsos, pareceriam degenerar em sanguinolenta anarquia, o distinto paulista prevalecendo-se de sua legítima influência, e ascendência sobre os espíritos, conteve o povo em sua cólera, e evitou cenas bem dolorosas.

Atalaia incansável do sossego público e do florescimento de seu município, não poucas vezes há sido onerado pelo governo provincial e pelos sufrágios do povo dos seus mais importantes negócios locais, os quais tem sabido promover e realizar com dedicado desinteresse e satisfação pública.

Não menos digno de nossa admiração e das bênçãos da pátria é o sr. Inácio Marcondes quando o contemplamos como sacerdote.

A fiel e constante observância dos deveres que a Igreja impõe aos seus ministros; os atos de piedosa caridade que exercita, sempre que à sua proteção recorrem os indigentes, nos inspiram sentimentos de respeito e veneração.

A munificência imperial não tem esquecido os merecimentos do distinto cidadão, com honras e distinções dignas de seu caráter, sentimentos e serviços. Já o sr. D. João VI o nomeara cavaleiro da Ordem de Cristo com tenças, por alvará régio de 5 de dezembro de 1820. S. M. Imperial houve por bem nomeá-lo Comendador da mesma Ordem em 9 de agosto de 1841.

Por carta imperial de 6 de maio de 1846 foi nomeado cônego honorário da Catedral e Imperial Capela da Corte do Rio de Janeiro. Por breve de 21 de janeiro de 1853 o Santíssimo Padre houve por bem agraciá-lo com as honras e privilégios de protonotário apostólico.

O Instituto Episcopal Religioso, fundado no Rio de Janeiro sob os auspícios do exmo. bispo diocesano, conde capelão-mor, ofere-ceu-lhe o título de sócio honorário.

S. Exa. o sr. bispo metropolitano de São Paulo, D. Antônio Joaquim de Melo, conde romano, incansável e solícito na apascentação de seu rebanho, apreciador dos sentimentos religiosos do monsenhor Inácio Marcondes, fê-lo seu delegado na comarca, confiando-lhe poderes e faculdades privilegiadas.

Pelo bem da causa pública, fiel observância e propagação das doutrinas pregadas do alto do Gólgota, o monsenhor Inácio Marcondes, o cidadão, e o sacerdote, não vacila um momento ante o sacrifício de sua individualidade.

Nas últimas eleições, a que se procedeu para representantes da nação, o 3º Distrito da província de São Paulo fez recair em grande maioria seus sufrágios sobre o distinto brasileiro. Se em defesa das ne-

cessidades públicas, e dos legítimos interesses de seus constituintes lhe tem faltado o poder da palavra, não lhe faltará firmeza de caráter, robustez de crenças, e um fogo santo e nobre de patriotismo, se a pátria exigir uma prova de seus sacrifícios.

O Brasil se deve ufanar com orgulho de possuir em seu seio caracteres puros, e vontades tão dedicadas como os filhos da Grécia e de Roma.