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Galeria dos Brasileiros Ilustres/João Manuel Pereira da Silva

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Não se trata nesta biografia de um homem político somente, trata-se também de um literato. João Manuel Pereira da Silva nasceu na vila de Iguaçu, província do Rio de Janeiro, no ano de 1818. Era seu pai um negociante, que adotara o Brasil por sua pátria, e que servira na corte os cargos de juiz de paz de almotacé, e sua mãe procedia de uma excelente e numerosa família daquele tempo.

Muito moço seguiu para Paris a completar seus estudos, começados no Rio de Janeiro.

Na Faculdade de Direito formou-se e defendeu tese em 1838, tendo por seu presidente o infeliz Conde Rossi, que foi assassinado em Roma, ocupando o lugar de ministro do papa Pio IX.

Voltando para a sua pátria, preferiu Pereira da Silva a carreira livre e independente de advogado a qualquer emprego público.

No ano de 1840 entrou para a Assembléia Legislativa da província do Rio de Janeiro. No de 1843, tomou assento na Câmara dos Deputados, como suplente.

Esta legislatura porém pouco tempo durou, porque foi dissolvida em maio de 1844, pelo Ministério Macaé e Alves Branco, que, vencendo as eleições, a que fizera proceder em todo o império, expelindo do corpo legislativo a todos os seus adversários, foi neste número incluído

João Manuel Pereira da Silva, que, desde que chegou da Europa, se dedicara ao Partido Conservador.

Continuou a advogar, e ao mesmo tempo pelos seus escritos, e artigos de periódicos, e na assembléia provincial, na qual teve sempre assento, continuou a servir as idéias e interesses do seu partido, até que nas eleições gerais de 1847 conseguiu ser um dos poucos conservadores, que foram eleitos para a Câmara dos Deputados, e que, aí, na sessão de 1848, formava um núcleo de oposição governamental, que trouxe a queda do poder do Partido Liberal, que se conservara na administração desde 1844.

Dissolvida esta Câmara em setembro de 1848 pelo ministério conservador presidido pelo marquês de Monte Alegre, foi de novo reeleito João Manuel Pereira da Silva e voltou para a Câmara em 1850.

Nesta época findou a sua carreira de advogado que deixou, achando-se com uma fortuna independente.

Muitas causas célebres defendeu quer perante o tribunal do júri, quer por escrito no foro civil, que mereceram as honras da publicação nos periódicos do tempo.

Não se esqueceu nunca da literatura pela qual professava particular predileção. Romances, críticas literárias, alguns versos, que publicou durante esse período e que se acham nas coleções de jornais e revistas, levaram-no a empreender estudos sérios e mais de fôlego, e entregou-se às investigações sobre a história de seu país.

Publicou um esboço literário sobre a literatura brasileira para introdução do Novo Parnaso Brasileiro: um estudo sobre a influência inglesa em Portugal, e a vida dos poetas Tomás Antônio Gonzaga, e frei Francisco de S. Carlos. Em 1847 imprimiu sob o título de Plutarco Brasileiro, em 2 volumes em 8º francês, uma coleção de biografias e críticas, que teve aceitação, apesar de muitos defeitos que se lhe notavam.

Na Câmara dos Deputados de 1850 a 1856 foi sem dúvida um dos oradores mais estimados e dos membros de comissões mais trabalhadores e ativos. Quase que não houve questão importante em que não tomasse parte. Foi um dos estrênuos defensores da política estrangeira do Visconde do Uruguai, que ocupava a pasta dos Negócios Exteriores. As questões do rio da Prata tão entremeadas de lutas e ódios, as diversas peripécias por que passaram as nossas relações internacionais com a Inglaterra e França, e as tentativas do governo brasileiro para ajustar com os estados americanos confrontantes os seus limites territoriais, e para negociar tratados de navegação, comércio e extradição de criminosos, acharam no deputado pelo Rio de Janeiro um sustentador acérrimo e decidido. A colonização européia foi por ele tratada na sessão de 1853 de uma maneira notável.

A reforma hipotecária, que pretendeu inaugurar no Brasil o Ministério de 1854, obteve dele um luminoso relatório, como relator da comissão especial que a Câmara dos Deputados nomeou. Os negócios da guerra e marinha ocuparam a sua atenção e cuidados, e pertenceu durante algumas sessões à comissão de marinha e guerra.

A convenção da moeda falsa, que se negociou com o governo português, para o fim de terminar este cancro, que envergonhava as duas nações e só servia para ilicitamente enriquecer alguns indivíduos, foi por ele sustentada, e mereceu esse seu comportamento, e a sua posição de relator da comissão diplomática, encarregada do exame e parecer sobre tal assunto, a comenda da Ordem de Aviz, que enviou-lhe el-rei de Portugal. Por fim, a reforma da lei de eleições, que acabou com os deputados por províncias e organizou os representantes de pequenos círculos, teve nele um campeão, que a primeira vez que foi executada o tornou uma das suas vítimas mais ilustres.

Ainda depois desta derrota, presidiu por alguns meses a província do Rio de Janeiro, em cujo governo adquiriu geral simpatia pela sua atividade, conhecimentos especiais e zelo como administrador.

Descido da presidência, partiu para a Europa, e lá, cumpre dizer com verdade, não fez menores serviços ao seu país com os seus escritos.

Foi um deles notável a publicação que fez na língua francesa na Revista dos Dois Mundos de 15 de abril de 1858, a respeito do Império do Brasil durante o governo do Sr. D. Pedro II.

É um trabalho, se bem que conciso, completo; política, comércio, indústria, finanças, recursos e forças do Brasil, tudo ali se descreve com a maior exatidão. Em resposta a quanto se publicara na Europa a respeito de sua pátria, mostrou ele ao mundo, e por uma publicação lida por número enorme de gente, e gente habilitada, o que era o Brasil, e o futuro que o devia esperar.

Este trabalho foi publicado em traduções alemãs e inglesas e causou sensação na Europa. Traduzido também em português, foi publicado em Lisboa e no Rio de Janeiro.

Outra publicação, que fez na Europa, foi a da obra Varões ilustres do Brasil durante os tempos coloniais, em 2 volumes em 8º francês. É a re-compilação dos trabalhos históricos e literários do autor sobre o Brasil. Acrescentou-lhe grande massa de novidade, e formou um livro, que teve traduções parciais em revistas francesas, e foi elogiado pelos jornais e revistas francesas, inglesas, alemãs e italianas, e por conhecidos e abalizados escritores.

Estas publicações causaram no Brasil agradável sensação. Muitos adversários políticos seus mudaram seus ressentimentos em estima. Quando João Manuel Pereira da Silva chegou ao Rio de Janeiro, de volta de sua excursão, achou-se membro da assembléia provincial do Rio de Janeiro e presidente por unanimidade de votos.

Tem-se conservado neste posto: tem servido em várias comissões de nomeação do governo, como a de presidente da inspeção da casa de correção e de membro da reformadora da lei de câmaras municipais e da lei da guarda nacional; tem servido de consultor do Ministério do Império, e, além da comenda de Cristo, obteve também ultimamente da munificência imperial a grande dignitária da Ordem da Rosa.

João Manuel Pereira da Silva é membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro desde sua fundação, do Instituto dos Advogados, do Instituto Histórico de França e várias outras associações científicas e literárias.