História do Brasil (Frei Vicente do Salvador)/II/VI

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Quando el-rei d. João Terceiro repartiu as capitanias do Brasil, fez mercê de uma delas, com 50 léguas de terra por costa, a Jorge de Figueiredo Corrêa, escrivão de sua fazenda, a qual começa da ponta do sul da barra da Bahia, chamada o morro de São Paulo, por diante.

Este Jorge de Figueiredo fez uma frota bem provida do necessário, e moradores, com a qual mandou um castelhano, grande cavaleiro, homem de esforço e experiência, chamado Francisco Romeiro, o qual desembarcando no dito morro, começou ali a povoar, e por se não contentar do sítio, se passou para onde esta a vila dos Ilhéus, que assim se chama pelos que têm defronte da barra, e vindo assentar pazes com o gentio Tupiniquim foi com a capitania em grande crescimento, e neste estado a vendeu o donatário com licença de Sua Majestade a Lucas Giraldes, que nela meteu grande cabedal, com que veio a ter oito engenhos, ainda que os feitores (como costumam fazer no Brasil) lhe davam em conta a despesa por receita, mandando-lhe mui pouco ou nenhum açúcar: pelo que ele escreveu a um florentino chamado Thomaz, que lhe pagava com cartas de muita eloqüência, Thomazo, quiere que te diga, manda la asucre deixa la parolle, e assinou-se, sem escrever mais letra.

Mas não foi este o mal desta capitania, senão a praga dos selvagens Aimorés, que com seus assaltos cruéis, fizeram despovoar os engenhos, e se hoje estão já de paz, ficaram os homens tão desbaratados de escravos, e mais fábrica, que se contentam com plantar mantimento para comer.

Porém no rio do Camamu, e nas ilhas de Tinharé e Boepeba, que são da mesma capitania, e estão mais perto da Bahia, há alguns bons engenhos e fazendas, e no rio de Taipé, que dista só duas léguas dos Ilhéus, tem Bartolomeu Luiz de Espinha um engenho, e junto dele esta uma lagoa de água doce, onde há muito e bom peixe do mar, e peixes-bois, e um pomar formoso de marmelos, figos e uvas, e frutas de espinhos.