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História do Brasil (Frei Vicente do Salvador)/IV/XVIII

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Como o governador Manuel Teles Barreto era tão velho ainda antes de ver bem o fim destas guerras, enfermou e passou desta vida, que também é uma contínua guerra, como diz o Santo Job, quereria Deus que fosse para a triunfante, donde tudo é uma suma paz, gloria, e bem-aventurança; foi este governador mui amigo, e favorável aos moradores, e o que mais esperas lhe concedeu, para que os mercadores os não executassem nas fábricas de suas fazendas, e quando se lhes iam queixar disso os despedia asperamente, dizendo que eles vinham a destruir a terra, levando dela em três ou quatro anos, que cá estavam, quanto podiam, e os moradores eram os que a conservavam, e acrescentavam com seu trabalho, e haviam conquistado à custa do seu sangue.

Morto pois Manuel Teles, cuja morte foi no ano de mil quinhentos oitenta e sete, se abriu logo a via de el-rei, que ele próprio havia trazido, na qual se continha que governassem por sua morte o bispo d. Antônio Barreiros, o Provedor-mor Cristóvão de Barros, e o ouvidor-geral; e porque este último então estava ausente, começaram de governar os dois, tomando por secretário o contador-mor da fazenda Antônio de Faria, e foi próspero o tempo do seu governo, assim pelas vitórias, que se alcançaram contra os inimigos, de que faremos menção nos capítulos seguintes, como por este tempo se abrir o comércio do rio da Prata, mandando o bispo de Tucuman o tesoureiro-mor da sua Sé a esta Bahia a buscar estudantes para ordenar, e coisas pertencentes a igreja, o que tudo levou, e daí por diante não houve ano em que não fossem alguns navios de permissão real, ou de arribada com fazendas, que lá muito estimam, e cá o preço universal que por elas trazem.

Também neste tempo e era do Senhor de mil quinhentos oitenta e sete vieram ao Brasil fundar conventos os religiosos da nossa província capucha de Santo Antônio, com o irmão frei Melchior de Santa Catarina, religioso de muita autoridade, e bom púlpito, por comissário por um breve do senhor Papa Xisto Quinto, e patente do nosso Reverendíssimo padre geral frei Francisco Gonzaga, que faz do breve relação no fim do livro que fez da nossa seráfica ordem, e por virem a instância de Jorge de Albuquerque, senhor de Pernambuco, fizeram lá o primeiro convento, pela qual causa, e por termos naquela capitania quatro conventos, se fazem nela os nossos capítulos, e congregações custudiais.