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História do Brasil (Frei Vicente do Salvador)/V/XVI

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Tanto que a cidade foi tomada, e o governador preso, se juntaram daí a alguns dias os oficiais da Câmera na aldeia do Espírito Santo, que é de índios doutrinados dos padres da companhia, e ali abriram a via de sucessão do governador Diogo de Mendonça, em que Sua Majestade mandava que por sua morte ou ausência lhe sucederia no governo Mathias de Albuquerque, que atualmente estava governando Pernambuco por seu irmão Duarte de Albuquerque Coelho, senhor daquela terra, do que logo avisaram, mas porque a distância é grande, e de ida e vinda são mais de 200 léguas de caminho, e os holandeses não contentes com estarem senhores da cidade, se queriam assenhorear do que havia fora, como vimos no precedente capítulo, elegeu o povo, e aclamou por seu capitão-mor, que os governasse o bispo d. Marcos Teixeira, o qual a primeira coisa que intentou foi recuperar a cidade se pudesse, e para este efeito nomeou por coronéis a Lourenço Cavalcanti de Albuquerque, e a Melchior Brandão, e escrever a muitos homens que já estavam todos em seus engenhos, e fazendas, e como os teve juntos determinou entrar na cidade no dia do bem-aventurado Santo Antônio, de madrugada, e porque no mosteiro do Carmo, que está fora defronte dela, se haviam agasalhado dois portugueses com suas mulheres e família, se murmurava deles que serviam de espias aos holandeses, e lhes davam sinal, e aviso com o sino; para que então lho não dessem mandou diante Francisco Dias de Ávila com índios flecheiros e alguns arcabuzeiros que os prendessem, o que os índios fizeram com tanta desordem, que antes eles foram os que deram aviso e sinal, porque em chegando ao dito mosteiro, e não lhes querendo os de dentro abrir, entraram por força, dando um urro de vozes tão grande, que ouvido pelos holandeses, tiveram tempo de se aperceber, de sorte que quando os quiseram cometer, que era já sol saído, e vieram descendo a ladeira do Carmo, e alguns já subindo a da cidade para entrarem pela porta onde estava uma fortaleza, lhe tiraram dela tantas bombardadas, e mosquetadas, que os fizeram tornar por onde vieram, e ainda os foram seguindo um grande espaço, sendo que eram os portugueses mais em número, e se se dividiram em algumas mangas, que cometessem juntamente por outras partes da cidade, que ainda não estavam fortificadas, porventura a recuperaram.

E porque até este tempo entravam e saíam alguns portugueses na cidade com passaporte do coronel, houve licença Lourenço de Brito para ir visitar a Diogo de Mendonça a nau, e concertou com ele que lhe mandaria uma jangada, e outra para seu filho. Antônio de Mendonça, com dois índios remeiros, que de noite mui secretamente os levassem à terra, como de feito mandou, e estando já para descerem a elas deu o urro, que temos dito no Carmo, com que espertaram os da nau, que lha estorvaram, e os das jangadas se acolheram mui ligeiramente para a terra, não sem serem sentidos dos holandeses, que daí por diante entendendo o que podia ser nela, e nas mais, puseram grandessíssima vigia, e os dos passaportes, com temor que os holandeses se alterassem com estas contas, se saíram da cidade sem tornarem mais a ela, só ficaram dois ou três mercadores casados por conservarem sua fazenda, com outros tantos oficiais mecânicos, e alguns pobres velhos, e enfermos, que por sua pobreza e enfermidade não puderam sair.