Horto (1910)/Ao meu bom anjo
Dizem que a vida não é mais que um sonho,
Meu Deus, quero sonhar!
Empresta-me, anjo bom, as tuas azas,
Guarda no seio a minha fronté em brazas,
Ensina-me a rezar!
Vamos, vamos, alem... foge commigo!
Procuremos bem longe um doce abrigo
Na patria dos archanjos...
A vida é sonho e como um sonho passa...
Pois, bem! vamos viver no Céo da graça,
Meu Deus, como dois anjos!
Quero fugir do mundo tenebroso
Labyrintho de dores...
Mensageiro divino, vem commigo,
Quero sonhar, viver, sorrir comtigo,
No Eden ha só flores!
Minh’alma, casta rôla abandonada,
Desfallece sosinha pela estrada
Não pode mais voar...
Empresta-lhe, anjo bom, as tuas azas:
Sinto estalar-me o coração em brazas
Cançado de chorar.
Assim voando pelo espaço em fóra
E vendo-te a meu lado a toda a hora,
Quero — fugindo d’este mundo agreste
Unida ao seio teu,
Embalada por ti, anjo celeste! —
Buscar meu ninho pelo azul do Céo!
1894.