Horto (1910)/Olhos de santa
A Antonia Araújo.
Cheios de treva e luz, teus olhos têm a côr
Das noites sem luar, ó meu divino amor!
E eu amo tanto a sombra e o brilho doce e puro
Dos grandes olhos teus, ó luz de meu futuro,
Como adora minh’alma os rutilos clarões
Do bando virginal de suas illusões.
Olha-me sempre e sempre... Em teu olhar formoso,
Minha noite e meu sol, ó Cherubim piedoso!
Eu quero ver atôa, eu quero ver boiar,
—Como se fosse um lago o teu formoso olhar —
Todo um mundo sem fim de sonhos e chimeras:
Lirios desabrochando ao sol da Primavera!
Não vês? E’ noite, e o Céo nos mostra tanta luz
Que, olhando para cima, eu cuido que Jesus
As estrellas formou de luridos novellos
Dos raios ideiaes do sol de seus cabellos...
E assim no teu olhar, doce como um jasmim,
Uma estrella se fez do nosso amor sem fim.
Deixa brilhar a estrella loura e mansa,
Que nos ha de guiar á Terra da Esperança.