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Horto (1910)/Regina cœli

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REGINA CŒLI



A Antonia de Araújo


Tudo o que sobe ao céo, tudo o que desce á terra
Balbucia o teu nome......
Luiz Murat.


Teu nome santo, ó Maria,
Tem a doçura innocente,
De uma caricia macia,
De uma chimera dolente.

Nelle se embala a Esperança
N’uma meiguice dilecta,
Como no berço a creança,
Como no verso o poeta.

Do Céo teu nome nos desce
N’uma harmonia divina,
Como um cicío de prece
Nos labios de uma menina.

Teu nome é setineo laço
Prendido em formoso véo,
Qual branca nuvem no Espaço,
Qual uma estrella no Céo.

Teu nome reflecte a imagem
Da melodia serena,
Que passa rindo n’aragem
E no voejar da phalena.

Uma blandicia suave
Nelle cantando divaga,
Como no Azul uma ave,
Como no Mar uma vaga.

Teu nome, cheiroso lirio,
No niveo calice encerra
Todo o mysterio do Empyreo,
Toda a alegria da Terra.

Como um contraste do encanto,
N’este teu nome diviso
Toda a saudade do pranto
E todo o affago do riso...

Ah! todo o perfume amado,
Toda a fragrancia mimosa,
Que o colibri namorado
Bebe no seio da rosa;

Toda a pureza do Amor,
Todo o feitiço do olhar,
Orvalho a cahir na flor,
Sereno a cahir no Mar...

Tudo em teu nome palpita,
Tudo embriaga e seduz,
Como a delicia infinita
De um paraiso de luz.

E, n’um canto repassado
De lyrismo que extasia,
Teu nome vive embalado,
Teu nome santo, ó Maria!