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Lágrimas Abençoadas/III/XI

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Silenciosa em sua magua, Maria deixava-se adivinhar, mas não gemia, nem perguntava a causa do ar sombrio de seu pae. Esperava anciosa as noites, via entrar seu tio só, e nem por um lanço de olhos lagrimosos lhe perguntava que mal fizera ella a Alvaro.

A pena, porém, era grande, e sem desafogo. Maria sentiu a desdita que presentira, um anno antes; compreendeu a significação amarga d'aquelles singelos versos que fizera nascer uma musica triste, filha da sua imaginação.

Adoeceu, sem queixar-se; caíu no leito, quando já não podia esconder de seu pae a febre constante que a extenuava.

Veiu o medico do corpo, e conheceu que a dor estava na alma. Frei Antonio sabia que ella podia morrer d'aquella febre. Foi, com sua cunhada ao pé do leito de Maria, e disse:

—Menina, o nosso amigo Alvaro vem hoje visitar-te, se tiveres forças, sáe da cama e vem agradecer-lhe o cuidado; se não, outro dia será.

Aumentou o rubor nas faces das enferma. Voou-lhe um innocente sorriso de ventura nos labios. Parou-lhe de repente, a vertigem do sangue. Reappareceu-lhe o sol do coração, a florescencia da phantasia, o céo dos seus extases, e a claridade radiosa do seu ar balsamico. Era a que fôra, quando se lançára a chorar de feliz nos braços maternaes.