Lágrimas Abençoadas/III/XII

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E dizia o coronel a seu irmão:

—Deus me livre de ser cruel para minha filha... Os homens muito experimentados na desgraça vêem tudo pela face peor. Póde ser que sejam dignos um do outro. Casem embora, e queira o céo que eu me arrependa mil vezes de ter agourado mal d'este casamento. Diz a Alvaro que lhe dou minha filha, e diz-lhe mais—que vae com ella a minha vida, vida que eu lhe dou, pois antes quero perde'-la, se hei-de um dia vê'-la infeliz. Que elle me mate, antes de fazer chorar Maria as primeiras lagrimas de arrependimento.

—Não sabes como elle lhe quer...—disse o padre.

—Tambem eu queria muito ás flores em quanto o viço d'ellas não desmaiava na minha mão. Depois, que valia uma flor sem perfume, sem seiva, amarellecida? Via-a caír sem dó, folha a folha, e, descuidado d'ella por amor das outras, punha-lhe em cima um pé indifferente. Compreendes o que é o homem, meu irmão? Melhor o compreenderás assim; não t'o quero pintar na linguagem propria... Na mão de Alvaro será Maria o que as flores foram na minha?