Lágrimas Abençoadas/IV/III

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Em 1842, Alvaro fugindo aos credores de Pariz, de Londres, de Madrid, de onde quer que desbaratou o seu e o alheio, appareceu em Lisboa pedindo ao mercieiro que lhe valesse. A desgraça quebrára-lhe a soberba. Alvaro pedia com humildade, se não era antes relaxamento, soccorro ao creado de sua casa. O logista deu-lhe a quantia que ficára, como em deposito, para ser dada a Maria, dizendo que ella a mandára entregar a seu marido.

Recebeu-a com indifferença, e consumiu-a obscuramente em uma roda que não era a sua, na convivencia de individuos que, sómente no abysmo da desgraça, sem honra, se encontram.

Padre Antonio dos Anjos não sabia dizer a Maria, onde seu marido estava. O mercieiro é que não perdeu de vista o filho de seu amo, com a mira de levanta'-lo, quando elle abrisse os olhos no extremo caír de perdição.

Foi elle, pois, quem deu ao frade miudas novas de Alvaro de Silveira. Umas vezes recebia dos parentes uma dadiva, como esmola. Outras, achava-se entre a gentalha, buscando nas fezes sociaes esquecer os explendores que dissipára. Eis ahi que chegava a mão mysteriosa do logista.