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Lourenço (Franklin Távora)/XIII

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Aos vinte e três anos de idade por grandes que sejam os dissabores e desenganos, ninguém pode impor às suas próprias paixões que se não agitem. O coração, como o cérebro, rege-se por leis impreteríveis. Ora, a primeira, ao menos, uma das principais dessas leis é a linguagem prática da força, resistência às adversidades, confiança no volver dos dias, esquecimento das dores passadas, fé - não encontro outra palavra que tão bem designe o poder de não cair aos golpes dos acontecimentos, e de arrostá-los com intrepidez - fé nas energias físicas e nas aspirações espirituais, que diz interiormente, com acentos proféticos: — Não esmoreças, não enfraqueças. És moço, resiste, vence as dificuldades; luta com as resistências que se atravessam. Não vês no mundo, no passado, na história, nos teus dias, não vês os moços dominando terríveis oposições, porque eles têm força, porque os seus músculos, os seus nervos, o seu cérebro ainda têm vigor para muitos anos, para muito tempo, e os anos e os tempos mudam as circunstâncias, matam inimigos, fazem surgir amigos novos, fazem aparecer outros merecimentos, criam novas recomendações, restabelecem o império da justiça, que é a lei em virtude da qual cada um deve adquirir aquilo que vale?

D. Damiana era um poço de desgostos. De uma alta representação na vila onde nascera, caiu na planície da pobreza, afundou-se na obscuridade. Às sedas e aos brilhantes substituíram-se-lhe jóias e roupas da viuvez. Os sorrisos que soíam entreabrir-lhe os lábios, quando, para comemorar datas distintas se reunia em sua casa a primeira nobreza no lugar, haviam desaparecido sob lágrimas silenciosas e longas, que lhe desciam agora pelas faces cobertas de mortal palidez. É fácil imaginar o desgosto que lhe acarretara a súbita transformação.

Mas uma jóia, um tesouro, havia ficado com ela. Por não lho poder arrebatar a morte do marido, a ausência dos parentes, as injúrias da plebe amotinada e capitaneada pelos inimigos da nobreza, o seqüestro, a rápida mudança de uma existência talvez de fausto para uma existência que estava ao nível das que sustenta a caridade particular; essa jóia, esse tesouro, eram os seus vinte e três anos; era a musculatura nova; eram a s carnes rijas, o sangue puro, o coração sem lesão, a massa encefálica forte, funcionando regular e plenamente.

Para quem está em semelhantes condições, a resignação não tarda, e a resignação em tais casos é o ressurgir das esperanças um instante submersa no mar dos contratempos. D. Damiana conformou-se. As fadas amigas, nas quais se acreditava então, praticando com ela em misterioso e secreto dialeto, tinham lançado no seu espírito estas idéias: — Pensarás que o mundo se acabou para ti, com a morte do teu marido, com a perda dos teus bens? Enganas-te. Tens beleza, e estás na flor da vida. Se choras hoje, amanhã poderás ter nos lábios sorrisos novos, mais louçãos talvez que os que perdeste. Se estás agora na miséria, poderás daqui a pouco voltar à abundância, e reergueres o cetro que te caiu da mão.

D. Damiana acreditou nestas vozes lisonjeiras, que não eram vozes de fadas, porque as fadas, como anjos, ou diabos, ou quaisquer influências de semelhante natureza, nunca existiram senão nas superstições dos tempos ignaros que precederam os nossos mas, sim, eram a linguagem natural da consciência, enriquecida e esclarecida pela observação e pelo conhecimento da vida.

Por singular coincidência que não é, todavia, difícil explicar, não ouviu elas advertências íntimas senão depois de ter visto Lourenço. Não era ele o testemunho vivo e irrecusável dessa verdade? De pobre e humilde, que fora, não se ia tornando de pouco a pouco outro, quer quanto às suas posses, quer quanto à sua condição? Não havia achado um protetor - o fazendeiro desconhecido, que talvez fosse seu pai visto que tinha para ele extremos de afeto e liberalidade pouco comum? Esse desconhecido não poderia dar-lhe mais tarde tudo o que era seu, e definitivamente afiançar a sua completa independência? Assim como por uma volta inesperada a sorte se tornara propícia para quem dantes rastejava no pó dos caminhos, por que somente para ela, Damiana, havia de ser implacável e imutável? Não era possível que dentro de pouco tempo outra revolução rebentasse contra o governador Machado, a exemplo do sucedera ao seu antecessor, Sebastião de Castro Caldas?

— Quem me diz - ponderava consigo a viúva - quem me diz que, de posse novamente dos meus bens, hoje no poder da justiça ou de terceiros, não se me deparará outro marido, que me levante da humildade em que ora jazo?

Absorta nesta ordem de idéias, por entre as quais o vulto do rapaz se mostrava na vaga recordação da cena do terreiro, estava D. Damiana sentada à porta do sítio, com as vistas embebidas no laranjal verde e florido que o sombreava, quando pressentiu que se avizinhava alguém. Voltando os olhos, deu com Lourenço, que vinha chegando do engenho.

Vaga impressão de satisfação sentiu a viúva, descobrindo o rapaz. Durante a noite, sem que ela o quisesse. pensara mais de uma vez nele. Fora triste a sua principal idéia. Temia que lhe acontecesse qualquer desastre. Se o prendessem, que seria dela e das outras mulheres?

O seu semblante, talvez por isto, talvez por nascente interesse que a ia prendendo ao rapaz, traiu o prazer íntimo que a vista dele produzira nela. Quanto a Lourenço, trazia no rosto uns longes de palidez, nos olhos brilho único e a modo de amortecido que lhe não eram usuais.

— Bom dia, sinhá D. Damiana - disse ele à viúva.

Esta, sem se poder dominar, já tinha dito antes:

— Graças a Deus que te vejo, Lourenço.

— Por que diz vosmecê esta palavra?

— Porque... porque estes tempos estão cruéis. A gente deita-se livre, e acorda na prisão.

— Teriam andado aqui em busca de mim?

— Não, porque não sabem talvez que está no Cajueiro; mas, a idéia de que andam nas tuas pisadas, não me deixa o espírito. A cada canto parece-me ver inimigos e perseguidores.

Lourenço mostrou-se satisfeito com estas palavras, que acusavam da parte da viúva solicitude para ele.

E como sem consciência, tornou irresistivelmente:

— Eu também levei toda a noite pensando em sinhá D. Damiana.

— Cuidavas, talvez, que me dariam na casa, que viriam fazer-me novos insultos.

— Cuidei em tanta coisa, que nem vosmecê sabe. Cuidei em tanta coisa, em tanta coisa, meu Deus!...

De repente, acrescentou:

— Vou ver minha mãe como amanheceu. Vou dizer-lhe que os cabras me deixaram em paz por esta.

A primeira pessoa que o rapaz viu sentada à porta da palhoça, com os olhos na direção donde ele ia, foi Marianinha. Pouco depois apareceu Marcelina.

— Deitei-me com o credo na boca, Lourenço. Deus te abençoe. Deixa-me tomar um fôlego bem comprido, que levei toda a noite com um peso no coração.

Marianinha disse somente que não era bom Lourenço andar pelas bandas da casa do padre Antonio, porque os mascates que deviam ter os olhos na negra de D. Damiana, podiam vê-lo e prendê-lo. Marcelina achou razão no que dizia Marianinha, mas Lourenço dissipou estes receios, observando que quando tivessem que cercar a casa, haviam de vir de noite, e não àquelas horas.

Na manhã seguinte, voltando Lourenço do sobrado, foi sabedor de uma novidade que o abalou; a casa onde residia D. Damiana tinha sido cercada de noite, e haviam arrancado de dentro a negra Felícia.

Para ostentação do pouco caso, realizou-se a diligência à luz de fachos, e com grande acompanhamento; e para melhor fundamento desta publicidade, haviam feito correr antes voz de fama que naquela casa estavam acoitados, além da negra, todos os escravos que tinham fugido para o mato, logo que a estrela do sargento-mor empalidecera.

Os esbirros varejaram todos os cantos e recantos, não só da casa principal, mas também de todas as palhoças da redondeza. Na de Marcelina a busca foi miúda e paciente.

O troço - já se sabe, mas devo repeti-lo, ainda com o risco de me tornar enfadonho - era composto, em sua maior parte, da ralé que formava o esquadrão do Tunda-Cumbe. Informado de se planejar aquela diligência, tinha vindo expressamente do rancho do Cipó, a porem por obra as suas maldades, esses vagabundos organizados em um corpo numeroso, que chegava aos pontos mais importantes da vasta região das matas, isto é, daquela região onde se mostravam situados os duzentos e cinqüenta engenhos que se contavam em Pernambuco. Tristes e lastimosos tempos eram estes, em que "a vil e pífia canalha vagabunda tinha permissão de entrar pelas fazendas e moradas destituídas do poder que as defendesse, a decompô-las, e roubá-las, como por ofício, sem respeito à nobreza dos donos, nem ao decoro das venerandas matronas, nelas assistentes, sem armas, sem forças e sem socorro algum que as amparasse". [1] Medonhos tempos em que "metidos os nobres pelos matos, suas mulheres, suas filhas e famílias em triste desamparo, o Camarão e o Tunda-Cumbe roubavam nas campanhas, matando cada qual por sua parte bois, vacas e criações, e corriam e revolviam os interiores mais recônditos das casas principais de Pernambuco, sem cortesia, nem respeito às suas donas". [2]

D. Damiana mal pôde resistir ao golpe de lhe tirarem a escrava. Tinha visto, cheia de coragem, ir-se toda a sua fortuna; mas aquele pequeno resto, que era quase metade da sua existência, atento o estado em que se achava posta, não pôde vê-lo desaparecer de seu poder, sem cair de cama.

O desacato, conquanto previsto, e a tristeza em que encontrou a senhora de engenho, sugeriram a Lourenço um pensamento que se deu pressa a realizar. A escrava foi logo arrematada por um senhor de engenho dali perto. Com ele entendeu-se Lourenço; e com o dinheiro que lhe dera o padre, e um pouco das economias destinadas por Marcelina para a compra de um sítio, recomprou a Felícia. É inútil dizer da satisfação de D. Damiana, ao ver entrar novamente em casa a sua escrava de estimação.

— Obrigada, obrigada, Lourenço, disse, sentindo algumas lágrimas umedecer-lhe os olhos. Restituíste-me uma parte da minha tranqüilidade, do meu sossego.

Este ato foi origem de novas alterações no Cajueiro. Marianinha que notara grande frieza no rapaz, sentiu aumentarem-se as suas suspeitas e ciúmes.

Uma manhã, voltando Lourenço da casa de engenho, onde continuava a pernoitar, porque mais do que nunca se receava de ciladas, viu na beira da estrada, no ponto que ficava justamente fronteiro à casa de D. Damiana, uma mulher sentada. Era a filha de Joaquina.

— Que está fazendo aqui, Marianinha?

Por única resposta, disse-lhe a rapariga:

— Olhe, Lourenço: há muito que tenho tenção de lhe dizer os meus sentimentos. Você é muito ingrato para mim.

— Marianinha, você parece que não está em seu juízo desde que cheguei.

— É verdade que não estou. Vivo triste sem gosto de nada. Desde que essa mulher veio morar aqui, foi-se embora a minha esperança. Vejo tudo cor de carvão.

— Que mulher?

— Que mulher! Faça-se desentendido. Você bem sabe a quem é que me quero referir.

— Tenha juízo, Marianinha. Você está ofendendo com suas palavras uma dona que não é qualquer. Você está dizendo coisas à toa.

— Estou dizendo o que o meu peito sente.

— Mas eu é que não estou para ouvir coisas que não devo. Que tenho eu com o que seu peito sente?

A rapariga inclinou a cabeça. Não teve outra resposta senão o silêncio e as lágrimas.

— Não chore, tornou-lhe o rapaz. Não sei o que querem dizer estas lágrimas.

Esta fingida e calculada ignorância de Lourenço, irritando os melindres da matutinha, deu-lhe ânimo para retorquir, com a cabeça erguida, em atitude de quem exprobrava:

— Querem dizer que a sua ingratidão atravessa o meu coração como faca de matador; Bernardina, desgraçada no princípio, vai ter um marido, vai ter sua casa; eu sou mais desgraçada do que ela, porque estou vendo me roubarem aquele que me pertencia.

— Eu nunca lhe pertenci, Marianinha.

Dizendo isto, com maus modos, deu o andar, deixando a rapariga sem pingo de sangue nas faces, porque todo ele lhe refluíra ao coração pela impressão nervosa.

No dia seguinte, Lourenço não a encontrou ali; mas, no outro, lá estava, quando ele atravessou a estrada, mais tarde do que costumava.

Logo que seus olhos deram na filha de Joaquina, Lourenço encaminhou-se diretamente para ela, e, com modos ainda mais rudes do que da outra vez, falou-lhe neste termos:

— Marianinha, não faça mais isto, não faça. Devo-lhe alguma coisa, para você ficar aqui à espera?

— Não me deve nada, mas quero vir vê-lo.

Visivelmente contrariado, tornou-lhe Lourenço:

— Não estou para semelhantes impertinências. Não quero que me espiem, nem é bonito você ficar aqui à beira da estrada, onde passa tanta gente.

Mas, ela respondeu-lhe com brandura que quase o enterneceu:

— Não se zangue, Lourenço. Eu não lhe mereço ingratidões, o que eu lhe mereço são outros sentimentos. Nós podíamos ser tão felizes...

— Felizes? Você é que está na obrigação de buscar a felicidade para mim, ou sou eu mesmo que a devo buscar?

— Não se zangue, Lourenço - repetiu ela. O que eu defendo não é a sua, é a minha felicidade, que me querem tirar. Eu a tinha no coração; mas isto não valeu nada. Daí mesmo a estão arrancando.

Passando adiante, Lourenço deixou-a ainda mais chorosa que no outro dia.

No momento em que a rapariga voltava à sua palhoça, Joaquina procurava-a na de Marcelina.

— Já não é esta a primeira vez que Marianinha me deixa só, e vai meter-se não sei onde. A rapariga anda tão triste que tenho medo de alguma coisa.

— Não adivinha você o que é isto? inquiriu Marcelina.

— Que será?

— Vontade de casar-se.

— Não duvido.

— Marianinha não se esquece de Lourenço.

— Lourenço é uma grande pessoa. Se eu visse minha filha casada com ele, considerava todos os meus gostos satisfeitos.

— Eu tenho muito desejo de vê-lo casado. Na idade dele o homem perde-se depressa, se não se casa logo. Ora deixe estar que eu hei de falar a Lourenço, sobre este negócio. Mas não vá dizer nada à menina. Nestes dois dias direi o que se passar.

Marianinha, ao princípio, quase inteiramente desorientada com o que acontecera, tomou, por fim, uma dessas resoluções heróicas que somente o amor sugere, estimulado pelo ciúme.

— Hei de vencer Lourenço pela minha constância.

Firme nesta resolução, foi esperá-lo no ponto onde costumava.

Lourenço tinha passado a manhã mais feliz da sua vida. Os seus colóquios com a senhora de engenho nada ofereciam digno de reparo; eram sempre sustentados em termos respeitosos e discretos; a coragem de Lourenço enfraquecia perante a idéia de revelar a sua mais preciosa eleição. Ele e D. Damiana conversavam sobre a guerra, as perseguições, as ocorrências do tempo. O prazer de Lourenço resumia-se em ver a viúva tão graciosa, em ouvir-lhe as palavras tão bonitas: o rapaz vivia encantado pela companhia. A viúva, do seu lado, gostava de ver o rapaz, cujo rosto adquirira grandes atrativos; gostava de admirar nele uma grande ânimo.

Tanto em um como no outro, o que havia, quando assim se embebiam em mútua e branda contemplação, não era senão amor; mas esse amor não sabia como se declarar; era um amor original - receio e respeito de um lado, superioridade, altivez, gratidão do outro. Era um amor que ainda não havia amadurecido - eis a verdade.

Lourenço fora feliz naquela manhã, porque, da conversação com D. Damiana, notara de parte dela menos altivez, mais benevolência. mais intimidade, e certas revelações de ternura que, conquanto sem a penetração que a educação gera ou aguça, o rapaz interpretou como a confissão tácita de lhe ir dando posse do seu coração.

Vinha ele absorto na consideração de tão grande bem, quando, pela terceira vez, descobriu Marianinha no ponto sabido.

De chofre, passando da satisfação ao dissabor, apressou o passo para aquele lugar. A sua exaltação revelou-se-lhe tão vivamente no rosto, que a rapariga tremeu imediatamente do passo que tinha dado.

Lourenço não pôde dominar-se. Os seus instintos animais, tanto tempo adormecidos, acordaram impetuosos, e ofuscaram-lhe, por assim dizer, o discernimento. Com a violência que tinha quando lhe chegavam estas temíveis manifestações da índole bravia, pegou no braço da rapariga, como se fora um galho de árvore que quisesse arrancar.

— Lourenço! gritou ela aterrada. Que é isto, Lourenço?

— Ainda pergunta?

A voz soturna foi um novo motivo de pavor para a rapariga,

— Não lhe disse que não viesse mais aqui?

— Foi o ciúme, o ciúme...

— Ciúme! - clamou ele irando-se cada vez mais - Se para me ver livre de quem tanto me aborrece, for necessário fazer uma morte, hei de fazê-la, hei de fazê-la.

— Não me mate, Lourenço - suplicou a rapariga em pranto.

— Mato-te, sim. Não quero mais enxergar-te diante dos meus olhos.

Vendo no mesmo instante, luzir a faca na mão do almocreve, Marianinha empregou os esforços que pôde para soltar-se. Lourenço correu atrás dela, e chegou a feri-la covardemente pelas costas. O mais vil assassínio ter-se-ia consumado, se a rapariga não alcançasse logo a palhoça.

Lourenço parou à porta, enquanto Marcelina e Joaquina tomavam nos braços a moça banhada em sangue.

— Que loucura foi esta, Lourenço. Dize-me, por que fizeste esta ação tão feia? Virgem da Conceição! E eu que cuidava que estavas curado do teu mal natural, desgraçado filho.

De outro lado, Joaquina, indignada, horrorizada, dizia, com a valentia das mães ofendidas:

— Pela minha benção, te peço, filha, que não olhes mais para este homem. Esquece-te dele, filha de minha alma.

Lourenço esteve um momento em silêncio, contemplando a sua triste obra. Pouco a pouco, a sua exaltação foi moderando, a sua loucura transitório foi cedendo lugar à consciência.

Caiu em si. A palidez dos finados tomou-lhe as faces. Enfiado, envergonhado, arrependido, deu o andar para onde estava Marcelina, e disse-lhe, pondo as mãos, em atitude de quem suplicava:

— Não chore, não chore, minha mãe. Estou arrependido.

— Pois não hei de chorar, quando te vejo dar tão triste cópia de ti?!

— Perdoe-me, minha mãe. Eu sou um animal, uma fera. Não pensei no que fiz. Tudo isto se acaba, deixando eu o Cajueiro. Vou-me embora, vou-me embora. Se eu já tivesse ido em busca de meu pai, não aconteceria isto agora.

Abraçou Marcelina e saiu enxugando os olhos.

Notas do autor

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