Machuca

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Sou morena bonita e galante
Tenho raios e setas no olhar
E nem pode uma lira de Dante
Os encantos que venho cantar
Quando passam os bilontras me olhando
De binóculo erguido com ardor
Dizem todos se bamboleando
Abrasados em chamas de amor

Ai morena, morena querida!
Tu nos pões a cabeça maluca (est.)
Pisa e mata, destrói esta vida
Ai, morena, morena, machuca!

Eu machuco deveras a todos
Até fico contente por isso
Ao fitá-los eu os deixo por loucos
Pois fitando-os lhes deito feitiço
Sou morena que quando passeio
Deixo cauda de luz como um astro
E uma récua de gente que veio
Me dizendo, seguindo o meu rastro:

Estes fogos que tenho nos olhos
E que têm até Dom de encantar
São na vida, no mundo, os escolhos
Onde os peitos se vêm quebrar
Mas a culpa não é, não é minha
É de todos que vêm com ardor
Me julgando dos céus a rainha
Me dizer abrasados de amor:

Esta obra entrou em domínio público no contexto da Lei 5988/1973, Art. 42, que esteve vigente até junho de 1998.


Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.